Sudão tem três dias para dar novo mandato ao ditador Bashir

Oposição boicota eleições no Sudão em protesto contra o regime de Omar al-Bashir, que já dura há 26 anos.

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Comício de campanha do Partido do Congresso Nacional de Bashir Ashraf Shazly / AFP

Os principais partidos da oposição anunciaram o boicote às eleições, retirando qualquer grau de incerteza quanto ao desfecho. A confiança do Partido do Congresso Nacional (PCN) quanto à sua mais que provável vitória é tão grande, diz a BBC, que nem sequer irá apresentar listas em 30% dos círculos eleitorais, para que os partidos oposicionistas que aceitaram participar possam ter alguma representação parlamentar.

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Os principais partidos da oposição anunciaram o boicote às eleições, retirando qualquer grau de incerteza quanto ao desfecho. A confiança do Partido do Congresso Nacional (PCN) quanto à sua mais que provável vitória é tão grande, diz a BBC, que nem sequer irá apresentar listas em 30% dos círculos eleitorais, para que os partidos oposicionistas que aceitaram participar possam ter alguma representação parlamentar.

Os críticos de Bashir dizem que a credibilidade do acto eleitoral está minada à partida pela falta de progressos no chamado processo de “diálogo nacional” – que deveria abrir caminho a reformas constitucionais –, pela prisão de dirigentes políticos e pela continuação dos conflitos armados em três frentes internas. Para Raga Makawi, um activista que vive actualmente em Londres, as eleições são uma “falácia”. “[As eleições] não passam de uma charada política. O Governo está a tentar usá-las para legitimar mais cinco anos perante a comunidade internacional quando sabemos que a realidade no terreno é a de que não há eleições em qualquer sentido real”, disse ao Guardian.

A campanha de Bashir – o único líder em funções acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional – assenta nas promessas de melhorar o acesso da população à água e às terras de cultivo e na garantia de que é o seu Governo que pode proteger o Sudão da instabilidade regional. “Existem aqueles (…) cujo objectivo é fazer no Sudão aquilo que aconteceu no Iémen, na Síria e na Líbia”, disse o Presidente de 71 anos durante um comício no estado do Kordofan do Sul.

Na semana passada, foram libertados dois dirigentes oposicionistas, que tinham sido detidos em Dezembro depois de assinarem um documento que pedia reformas democráticas no país. A decisão foi vista, porém, como uma manobra táctica de Bashir para limpar a imagem do regime. No domingo, a polícia dispersou de forma violenta uma manifestação de estudantes em Porto Sudão, no Leste, em protesto contra as eleições.

“Só vejo Bashir na TV”
Ao longo das últimas duas décadas, Bashir e o PCN, com o apoio do Exército, colonizaram praticamente toda as esferas de poder, deixando pouco espaço para a crítica. As organizações da sociedade civil são fortemente reprimidas e os media são dominados pelo Governo.

“Eu só vejo Bashir na televisão e em todo o lado. Não parece que Bashir tenha mais alguém a concorrer contra si”, disse o jovem Ali Adel Kheder ao canal Al-Jazira, justificando assim a sua abstenção. “O canal de televisão do Estado e os privados são todos pró-Bashir. Não sei quem são os candidatos nem quais são os seus programas eleitorais”, acrescentou.

Desde a subida de Bashir ao poder, na sequência de um golpe militar de inspiração islamita, que estas são as segundas eleições multipartidárias no Sudão. Em 2010, a participação foi mais elevada, com a inscrição de 72 partidos. No entanto, os observadores internacionais descreveram o sufrágio como “infestado de irregularidades”. A Freedom House refere “notícias de listas de eleitores irregulares, violação de urnas e entregas de dinheiro a eleitores do PCN”.

“Se há uma diferença entre esta farsa eleitoral e a de 2010, é que foram tomadas muitas mais precauções para assegurar a vitória, e essa vitória tem um brilho enganador de legitimidade”, escreveu no Sudan Tribune o professor do Smith College especializado no Sudão, Eric Reeves.

A União Europeia aproveitou a aproximação das eleições no Sudão para pressionar o Governo de Cartum a alcançar “uma solução abrangente para os conflitos” no país e para um processo que conduza a “um processo político inclusivo”. “O povo do Sudão merece melhor. Escolhemos, assim, não conferir apoio a estas eleições”, afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, na semana passada. Também a chamada troika – composta pelo Reino Unido, EUA e Noruega e que tem mediado o processo de reforma política sudanês – expressou um “grande desapontamento” pelo falhanço das negociações.

Para além do processo de reformas políticas prometido por Bashir, o Sudão tem ainda três frentes de conflitos militares em curso: Darfur, Nilo Azul e Kordofan do Sul. Na tentativa de combater o crescente isolamento internacional – desde 1997 que os EUA impuseram um embargo comercial ao Sudão, para além de ser um dos quatro países na lista de “Estados patrocinadores de terrorismo” do Departamento de Estado –, Cartum anunciou a participação na coligação internacional que tem combatido os rebeldes huthis no Iémen, liderada pela Arábia Saudita.