“Venham investir em França”, convida Manuel Valls

O primeiro-ministro francês quer que os empresários portugueses apostem em França e dá o exemplo da Renova, que vai abrir em Auvergne a primeira fábrica internacional.

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França pode investir em concessões de serviços públicos em Portugal, diz Valls Enric Vices-Rubio

Por quê? Porque não só França será o país “mais povoado da União Europeia”, como está a desenvolver medidas para “tirar todos os freios e obstáculos” à competitividade e capacidade de contratação e investimento das empresas, com destaque para as pequenas e médias empresas, “que são aquelas que podem criar emprego”.

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Por quê? Porque não só França será o país “mais povoado da União Europeia”, como está a desenvolver medidas para “tirar todos os freios e obstáculos” à competitividade e capacidade de contratação e investimento das empresas, com destaque para as pequenas e médias empresas, “que são aquelas que podem criar emprego”.

E é da criação de emprego que a Europa precisa para não sucumbir ao “cepticismo” e ao “populismo” sublinhou Manuel Valls: “Se não fizermos com que o desemprego diminua, nomeadamente o desemprego jovem, não conseguiremos que o projecto europeu sobreviva”, afirmou.

A Europa “não pode limitar-se a políticas orçamentais, porque é também um projecto civilizacional e económico” e vive “um momento crucial” em que deve apostar todas as fichas na "promoção do investimento e do emprego”, sublinhou Manuel Valls, acrescentando que esta é uma estratégia da qual Portugal “também deve fazer parte”.

“Os olhares de fora” conseguem ver que, em Portugal, a “economia está a crescer”, as “finanças públicas melhoram” e Portugal “beneficia da confiança dos investidores”, assegurou o primeiro-ministro francês, notando que Portugal tem sido uma escolha das empresas francesas.

São cerca de 750 instaladas no país, que garantem 58 mil empregos e um volume de vendas de 9,5 mil milhões de euros por ano, disse o primeiro-ministro, destacando o investimento da Vinci na ANA e o da Altice na PT Portugal. “Outros investimentos são possíveis nos processos de privatização de empresas públicas ou concessão de serviços públicos”, adiantou, dizendo-se favorável “a uma presença ainda mais forte de França em Portugal”.

Mas no cenário oposto “ainda há muito para melhorar”, disse Valls. Destacando o exemplo da Renova, que vai construir em Auvergne a primeira fábrica fora de Portugal, notou que em França há apenas 200 empresas portuguesas, que empregam 3500 pessoas.

A França está a fazer a sua parte “para facilitar a vida às empresas”, assegurou Manuel Valls. Aumentar a flexibilidade nas regras da contratação, tornar “mais fluído o diálogo social” com um projecto-lei que deverá ser conhecido antes do Verão, reduzir os custos do trabalho e o impacto da carga fiscal em cerca de 40 mil milhões de euros em três anos, sem esquecer a diminuição dos impostos da classe média, que abarcará nove milhões de famílias a partir de Setembro … tudo isto sem pôr em causa os compromissos com o saneamento das contas públicas, assegurou o governante.

E quanto ao prazo de dois anos (até 2017) que o país conseguiu para fazer regressar o défice das contas públicas abaixo dos 3% (o limite estabelecido nas regras orçamentais europeias), Valls reconheceu que “a medida trouxe muitas interrogações, mesmo em Portugal”, mas deixou a nota: “A França não beneficiou de nenhum favor ou excepção”.

“Disse-o em Bruxelas e digo-o em Lisboa: não aceitaremos medidas orçamentais que venham quebrar o crescimento”, afirmou o primeiro-ministro da segunda maior economia do euro, que espera um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) 1,5% este ano. É preciso “vigilância, vontade e firmeza”, mas em França não estão em cima da mesa medidas como reduções do salário dos funcionários públicos, garantiu.

E sectores como a educação (onde está a prevista a criação de 60 mil lugares de professores) e as forças de segurança “são uma prioridade”. “As medidas de austeridade aplicadas em Portugal não têm nada a ver com as de França”, reconheceu. “Isso pode afastar as nossas populações”, na medida em que a diferença de situações na Europa “favorece o eurocepticismo, o egocentrismo e a afirmação dos populismos”.

Uma mensagem de amor
“Os destinos de Portugal e França estão intimamente ligados”, um milhão de franceses são os filhos e os netos dos emigrantes portugueses e “Portugal e França sabem que podem contar um com o outro em caso de dificuldades”, disse Valls, que veio a Lisboa trazer “uma mensagem de amor e amizade”. “Há vínculos fortes e próximos” que devem ser reforçados e há, também, “a responsabilidade comum de preservar o tesouro europeu”.

Se o custo da energia é “um dos trunfos” franceses na atracção de investimento (graças à aposta no nuclear “que continua a ser um sector com futuro”), é também na energia que Portugal e França têm outro interesse comum. Recordando a cimeira de Madrid, em Março, onde Portugal, Espanha e França debateram projectos para reforçar as interconexões energéticas, Valls sublinhou que os países devem “intensificar os seus esforços” neste domínio.

Projectos como o cabo submarino no Golfo da Biscaia, os cabos de alta tensão para atravessar os Pirenéus e o gasoduto entre Espanha e França “devem ser abrangidos pelo Plano Juncker” (o plano da Comissão Europeia para mobilizar investimentos públicos e privados num montante de 315 mil milhões de euros em grandes programas de infra-estruturas, nos próximos três anos), afirmou.

E ainda na área de energia, a propósito da Cimeira do Clima que se realizará em Dezembro, em Paris, lembrou que “o crescimento verde” é uma oportunidade que a economia e as empresas “devem aproveitar plenamente”, quer pelo potencial das energias renováveis, quer pelo desenvolvimento e inovação tecnológicas que estão associados ao sector.

“Cidades conectadas, redes inteligentes”… a Europa “tem de liderar estes movimentos” de investimento, disse. E tudo isto deve interessar aos jovens, porque só se conseguirá “voltar a dar sentido ao projecto europeu se a juventude acreditar nele”. Para isso é preciso que “a Europa reaja e fale ao coração dos europeus”, que aposte na economia, mas também na preservação da sua cultura e identidade, porque a Europa “também é um modo de vida que deve ser preservado”, afirmou Manuel Valls.