Carlos do Carmo não merecia isto

Carlos do Carmo merecerá certamente uma homenagem, mas não merecia este objecto.

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 Percebe-se o que Ivan Dias quis fazer – um equivalente do José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes, cruzando as dimensões pessoal e profissional de uma figura pública. Mas precisamente por se perceber essa ambição - e por se perceber também que o filme não tem unhas para chegar lá - é que é doloroso assistir ao que parece não passar de um home movie hagiográfico, um alinhar de honrarias e viagens e conversas que é quase insultuoso definir como “documentário”.

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 Percebe-se o que Ivan Dias quis fazer – um equivalente do José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes, cruzando as dimensões pessoal e profissional de uma figura pública. Mas precisamente por se perceber essa ambição - e por se perceber também que o filme não tem unhas para chegar lá - é que é doloroso assistir ao que parece não passar de um home movie hagiográfico, um alinhar de honrarias e viagens e conversas que é quase insultuoso definir como “documentário”.

Provinciano no modo como se ancora à volta da longevidade e do reconhecimento do artista sem sequer se dar ao trabalho de as contextualizar (a quase inexistência de imagens de arquivo é inexplicável), caseirinho no modo como dá uma importância desmesurada a conversas com figuras públicas que parecem estar ali apenas para “inflacionar” a importância do fadista (que não precisa disso), Um Homem no Mundo chega a ser embaraçoso, deixa no espectador uma sensação de vergonha. Como é possível que um artista do talento de Carlos do Carmo seja retratado deste modo superficial e fútil, que faria muito mais sentido “retalhado” como extra de um DVD ou como reportagem inofensiva para um programa de famosos? Chamar-lhe um “filme”, e exibi-lo em sala, é indicativo do equívoco que continua a existir na cabeça de muita gente sobre o que é cinema. Isto, claramente, não o é.