Congresso da Cidadania quer "novos agentes" para legislativas e presidenciais

O presidente da associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, explica ao PÚBLICO por que deverá juntar na mesma sala presidenciáveis como Carvalho da Silva e Sampaio da Nóvoa, e líderes de novos partidos, como Marinho e Pinto e Rui Tavares.

Foto
"Tudo faremos para que a ruptura seja democrática" Foto: Daniel Rocha

O congresso chama-se “Ruptura e Utopia para a Próxima Revolução Democrática”. Com o que pretende romper e que modelo quer construir?
Queremos romper com as práticas políticas que nos trouxeram à situação em que estamos hoje. A ruptura deve ser democrática, devem ser os agentes políticos a promovê-la. Se a ruptura, que consideramos inevitável, não for democrática, está a abrir portas à ruptura violenta, que não queremos. A população e os cidadãos não aguentam muito mais. Se não houver quem democraticamente encontre soluções para romper com o estado das coisas, a revolta vai verificar-se e a violência vem aí. É a nossa convicção. Como não somos pela violência, que normalmente sabe-se como começa, mas nunca se sabe como acaba, não sabemos quais as consequências de uma ruptura violenta. Tudo faremos para que a ruptura seja democrática, pacífica.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O congresso chama-se “Ruptura e Utopia para a Próxima Revolução Democrática”. Com o que pretende romper e que modelo quer construir?
Queremos romper com as práticas políticas que nos trouxeram à situação em que estamos hoje. A ruptura deve ser democrática, devem ser os agentes políticos a promovê-la. Se a ruptura, que consideramos inevitável, não for democrática, está a abrir portas à ruptura violenta, que não queremos. A população e os cidadãos não aguentam muito mais. Se não houver quem democraticamente encontre soluções para romper com o estado das coisas, a revolta vai verificar-se e a violência vem aí. É a nossa convicção. Como não somos pela violência, que normalmente sabe-se como começa, mas nunca se sabe como acaba, não sabemos quais as consequências de uma ruptura violenta. Tudo faremos para que a ruptura seja democrática, pacífica.

Mas, como militar de Abril, admite a necessidade de haver uma resposta mais violenta?
Gostaria que não acontecesse. Agora, em termos teóricos, estou convencido que acabará por acontecer se não houver uma solução. Tivemos a sorte de, em 1974, quando a ruptura violenta se deu, ser feita por um conjunto de militares que utilizaram as Forças Armadas numa perspectiva de luta por valores. Acabou por ser quase pacífica. Tivemos essa sorte. Duvido que voltemos a ter essa mesma sorte. Temo que, a não haver uma ruptura democrática, a ruptura violenta aconteça. A acontecer, nunca se sabe o que vai dar.

O que pretende com o congresso?
É um congresso da cidadania. Queremos que se abram espaços para que seja possível, a seguir às legislativas, em que provavelmente voltará a haver uma pulverização de resultados como nas europeias, fazer outro tipo de acordos do que aqueles que têm sido feitos. Sempre à volta de três agentes do chamado arco da governação, que deram isto. Não pretendemos ser a solução, queremos ajudar a que a solução aconteça. Pôr as pessoas a discutir, encontrar espaços para que possam ver que é possível dialogar, encontrar novos agentes, para as legislativas, para as presidenciais. Mostrar que é possível sair deste marasmo, desta situação de indignidade. Outra palavra que queremos juntar à ruptura e utopia é dignidade.

Considera que em Portugal os cidadãos participam pouco na vida política?
Muito pouco. Espero que consigamos aprender com os bons resultados da Grécia. É possível lutar contra o “austeritarismo”. Que o exemplo que também vem de Espanha possa frutificar em Portugal. Que apareçam novos agentes capazes de promover a alteração.

Faltam novos partidos em Portugal?
Os principais partidos estão desgastados. Ou dão a volta interior, demonstram que podem ser diferentes, alteram o seu posicionamento de lóbis, interesses, negócios, conquista pelo poder puro e duro, ou provavelmente acontece o que aconteceu na Grécia, prestes a acontecer em Espanha. Acabarão por ficar reduzidos a números ínfimos.

Fala num congresso “aberto à participação de todos”, em “promover a acção cívica dos cidadãos e contribuir para uma política alternativa e progressista que lhes dê esperança e responda aos seus anseios de dignidade”. Este vocabulário transformou-se em partidos, em acção política e até governativa em países como Espanha e Grécia. O que se passa com a esquerda em Portugal?
Ao longo destes últimos anos, infelizmente olham muito cada um para o seu umbigo. Lutam mais por interesses do que por valores. Estão mais preocupadas com o cargo ou tacho. Não ganharam ainda a credibilidade, para aparecer uma força com peso. A minha esperança é que este congresso ajude quer os que estão no terreno, quer outros que possam aparecer, a serem capazes de lutar por valores e encontrar uma solução, conjunta, sem cada um querer ter a sua capelinha.

Considera que se está a despolitizar a sociedade? Que sociedade e política estão a responder apenas ao poder económico?
Os dirigentes em quem votamos têm uma capacidade ínfima na tomada das decisões, acabam por ser tomadas fora daqui, noutro contexto. A maior parte por funcionários nomeados pelo poder económico. É necessário que isso se altere. É necessário que quando praticamos a democracia e votamos, o alvo dos nossos votos possa ter capacidade de decisão sobre os problemas que nos interessam. Vamos ter de ser capazes de encontrar adesões às nossas ideias noutros povos, noutras forças europeias que tenham os mesmos problemas. Para a Europa continuar, para a União Europeia continuar como está, totalmente falhada em termos do projecto fundador, é preferível sairmos dessa Europa. Queremos que a Europa, a União Europeia continue, mas tem de ser capaz de se reformular para voltar ao projecto solidário, democrático, que esteve na base da sua criação.

Actualmente o que vê na Europa?
Vejo o poder financeiro dominar por completo o poder político. Vejo os políticos venderem-se ao poder financeiro. Quem tem de ter a decisão final sobre as soluções é o poder político, não o financeiro. Isso gera corrupção, que esteve na origem da crise. Eu dizia há quatro anos que a crise de valores que se vivia em Portugal era mais preocupante do que a crise financeira. Estes quatro anos deram-me razão, e de que maneira. A crise de valores fez-nos cair numa situação em que cada dia me envergonho mais pelos dirigentes que tenho.

Este ano, os militares de Abril vão participar nas comemorações do 25 de Abril no Parlamento?
O assunto não foi discutido. As razões que nos levaram a não participar, pela terceira vez, não se alteraram para melhor, pelo contrário. Estou a dar-lhe uma resposta indirecta, mesmo que o assunto ainda não tenha sido debatido.