O inter-rail condescendente

Um best-seller de psicologia pop filmado como uma lição de vida à Paulo Coelho. Um susto de filme.

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O filme do inglês Peter Chelsom (que deu há 20 anos a Jerry Lewis o seu último papel no cinema em Funny Bones), adaptação de um best-seller do psiquiatra francês François Lelord, afunda-se num mar de lugares-comuns de psicologia pop, bem-intencionados mas superficiais, mas nem é esse o seu maior problema. Supostamente uma fantasia inofensiva sobre um adulto que nunca cresceu embarcado num inter-rail global que lhe abre os olhos para a vida, Hector nunca consegue encontrar o tom de fábula que busca, lastrado que está por um realismo de postal ilustrado calibrado para aliviar o mal-estar burguês dos privilegiados do primeiro mundo, com a sabedoria ancestral dos povos indígenas a ser representada por meio de arquétipos inacreditavelmente condescendentes.

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O filme do inglês Peter Chelsom (que deu há 20 anos a Jerry Lewis o seu último papel no cinema em Funny Bones), adaptação de um best-seller do psiquiatra francês François Lelord, afunda-se num mar de lugares-comuns de psicologia pop, bem-intencionados mas superficiais, mas nem é esse o seu maior problema. Supostamente uma fantasia inofensiva sobre um adulto que nunca cresceu embarcado num inter-rail global que lhe abre os olhos para a vida, Hector nunca consegue encontrar o tom de fábula que busca, lastrado que está por um realismo de postal ilustrado calibrado para aliviar o mal-estar burguês dos privilegiados do primeiro mundo, com a sabedoria ancestral dos povos indígenas a ser representada por meio de arquétipos inacreditavelmente condescendentes.

E nem a presença entusiasmada de Pegg – comediante francamente talentoso que costuma ter azar com as escolhas que faz – impede Hector de tombar rapidamente numa lição de vida enjoativamente açucarada que parece tirada a papel químico de um livro de Paulo Coelho. É um dos piores filmes que vemos em muito tempo.