Compras à Alemanha agravam défice comercial

Importações de produtos alemães, como os automóveis, e falta de apetite pelos produtos portugueses levou défice comercial entre os dois países a subir 71% para 1645 milhões de euros no ano passado. Em termos globais, a balança de bens foi negativa em mais 926 milhões de euros.

Fotogaleria

Assim, graças a uma maior compra de produtos vindo da Alemanha, como bens duradouros (onde se destacam os automóveis), a balança comercial entre os dois países agravou-se substancialmente para o lado português: se o défice era de 962 milhões de euros em 2013, no ano passado esse valor disparou 71% para 1645 milhões de euros. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Assim, graças a uma maior compra de produtos vindo da Alemanha, como bens duradouros (onde se destacam os automóveis), a balança comercial entre os dois países agravou-se substancialmente para o lado português: se o défice era de 962 milhões de euros em 2013, no ano passado esse valor disparou 71% para 1645 milhões de euros. 

Este é, aliás, um dos factores que ajudam a explicar o aumento do défice da balança comercial de bens com o exterior que, segundo os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), subiu 926 milhões de euros no ano passado face a 2013, atingido um total de 10.565 milhões de euros.

Entre os cinco maiores parceiros de Portugal (ou seja, incluindo também Espanha, França, Angola e Reino Unido), foi com a Alemanha que se deu o maior agravamento. França, Reino Unido e Angola são compradores líquidos dos produtos portugueses, com destaque para este último. Já no caso de Espanha, o défice comercial é maior do que o que existe com a Alemanha, mas subiu a um ritmo muito inferior em 2014: mais 8% (ou 553 milhões de euros), chegando aos 7714 milhões.

Os dados que mostram o aumento do fosso nas trocas comerciais entre a Alemanha e Portugal surgiram no mesmo dia em que soube que este país alcançou no ano passado o maior excedente comercial de sempre, ao exportar produtos no valor de 1,13 biliões de euros, quando as importações se quedaram pelos 916,5 mil milhões de euros. Ou seja, o saldo foi positivo em 217 mil milhões de euros. Embora seja considerada o motor da economia europeia, a Alemanha tem apostado pouco no investimento e no consumo, e bastante nas vendas ao exterior, o que inevitavelmente afecta países da zona euro como Portugal.

Em Novembro de 2013, a Comissão Europeia anunciou a abertura de uma investigação aprofundada sobre o excedente externo da Alemanha, enquadrada na detecção de desequilíbrios macroeconómicos excessivos nos Estados membros, com capacidade de desestabilizar o euro. Na altura, o então presidente da Comissão, Durão Barroso, afirmou que a decisão não devia ser entendida “como um desacordo da Europa relativamente à competitividade” da economia alemã, antes “pelo contrário”. A questão, explicou, era saber se a Alemanha podia “fazer mais” em favor da economia europeia.

Em termos gerais, o que os dados do INE vieram demonstrar foi que no ano passado as exportações de bens subiram (1,9%), mas as importações cresceram a um ritmo superior (3,2). No caso das vendas ao exterior, esta foi a pior performance desde 2009 (quando a taxa foi de -18,4%, no contexto da crise financeira). Em 2010 o crescimento foi elevado, mas, desde aí, tem vindo a desacelerar.

Desafios para 2015
Rui Bernardes Serra, economista chefe do Montepio, destaca que as exportações portuguesas foram prejudicadas por factores temporários como o encerramento da refinaria de Sines da Galp durante cerca de três meses (ver página 18), e a paragens na Auto-Europa devido à fraca procura no mercado automóvel europeu. Por outro lado, diz que, do lado das importações, estas, além de acompanharem a evolução das exportações, o regresso ao crescimento do consumo privado e do investimento, “terão sido empoladas por uma anormal acumulação de stocks no início de 2014”, o que irá originar “efeitos positivos” este ano, com uma menor necessidade de importações.

“As exportações continuarão a ser um grande motor do crescimento, mas não necessariamente as exportações líquidas de importações, já que a recuperação da procura interna será acompanhada por um aumento de bens importados”, refere Rui Bernardes Serra, defendendo que “a grande diferença face ao período pré-crise é que desta feita o aumento das importações não deverá ser realizado à custa do endividamento externo, mas financiado com as exportações”.

Factores como o regresso de Espanha ao crescimento, a baixa do euro face ao dólar e a descida do preço do petróleo são ajudas para este ano, mas este último factor tem também um lado negativo, já que se antecipa o decréscimo das vendas para Angola, cuja economia está a sofrer os efeitos da queda do preço do petróleo. A descida desta matéria-prima já levou à elaboração de um orçamento rectificativo para 2015, que incorpora uma forte redução na despesa pública. Ao mesmo tempo, Angola está também a impor limites à importação de diversos produtos como as cervejas e águas (que figuram entre os mais exportados para este mercado africano). 

Para já, o que os dados do INE mostram é uma certa volatilidade nas exportações em termos homólogos, com vários meses negativos e outros positivos. Em termos acumulados, houve uma subida de 2% nas vendas para Angola, menos de metade do registado no ano anterior. No entanto, como houve muito menos compras de petróleo, a balança foi bastante positiva para Portugal: 1570 milhões de euros.