Michael Kennedy, o crítico que dizia gostar de demasiada música

Trabalhou durante 65 anos para o Daily Telegraph e foi um dos mais influentes críticos de música clássica do Reino Unido. Morreu quarta-feira, aos 88 anos.

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The Telegraph

Semi-reformado desde 2005, depois de ter trabalhado também para o Sunday Telegraph, Kennedy consagrou a sua carreira à escrita, no jornalismo e fora dele, interessando-se sobretudo pela música do romantismo. Entre os seus livros mais celebrados estão a segunda edição do The Oxford Dictionary of Music, de 1994, e títulos sobre quatro dos seus compositores de eleição: Edward William Elgar, Richard Strauss, Benjamin Britten e Ralph Vaughan Williams. “Há uma nobreza em Vaughan Williams”, disse sobre aquele que era também seu amigo, lembrou-o agora no Telegraph Ben Lawrence, “uma grandeza de espírito que era maravilhosa”.

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Semi-reformado desde 2005, depois de ter trabalhado também para o Sunday Telegraph, Kennedy consagrou a sua carreira à escrita, no jornalismo e fora dele, interessando-se sobretudo pela música do romantismo. Entre os seus livros mais celebrados estão a segunda edição do The Oxford Dictionary of Music, de 1994, e títulos sobre quatro dos seus compositores de eleição: Edward William Elgar, Richard Strauss, Benjamin Britten e Ralph Vaughan Williams. “Há uma nobreza em Vaughan Williams”, disse sobre aquele que era também seu amigo, lembrou-o agora no Telegraph Ben Lawrence, “uma grandeza de espírito que era maravilhosa”.

Homem descrito por muitos como “encantador”, Michael Kennedy dizia ter seguido na sua carreira de crítico duas dicas de um colega, Neville Cardus: nunca escrever mal-disposto e, sobretudo, nunca pôr no papel nada que não fosse capaz de dizer cara-a-cara.

Num texto agora republicado no Telegraph, escrito por Ivan Hewett no início de 2014, depois de um longo encontro na sua casa nos arredores de Manchester, Kennedy admite que foi graças a estes dois princípios que fez tantos amigos entre os músicos sobre os quais falava.

“Tipicamente britânico”, escreveu Michael Henderson no mesmo diário, apaixonado pela música de Strauss, Elgar e Vaughan Williams, por críquete e por muitos dos aspectos mais pitorecos da paisagem rural inglesa – o sentido de humor e a maneira muito jovial de ver o mundo eram dois dos seus traços de personalidade mais vincados, garante este jornalista , Kennedy era o mais rápido a identificar as suas próprias falhas: “O meu maior defeito é gostar de demasiada música.” Noutra ocasião, admitia ser um “pessimista” quando se tratava de analisar a ligação dos ingleses com a produção musical: “Não me parece que a considerem de grande importância. Uma minoria fá-lo, e essa minoria vê-se em todo o lado, mas para a maioria das pessoas não significa o mesmo que para, digamos, os alemães ou os austríacos.”

Se lhe perguntavam se não se aborrecia por assistir a determinada sinfonia pela enésima vez, lembra Henderson, Michael Kennedy limitava-se a dizer: “Se fico entediado perante a possibilidade de ver As Bodas de Fígaro pela 25.ª vez? Lembro-me de ser levado [em criança] para ver as velhas pantomimas de Manchester, e lembro-me da excitação que era a cortina a subir. Ainda sinto essa emoção. Não consigo imaginar a vida sem música.”