Rússia aproxima-se da Abkházia para castigar aproximação da Geórgia à NATO

Putin assinou um tratado de cooperação com o líder da região separatista que Governo georgiano receia ser porta aberta para a anexação.

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Soldados russos durante a intervenção na Geórgia, em 2008 Viktor Drachev / AFP

Foi em Sochi, a estância balnear no mar Negro, que o Presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o líder da Abkházia, Raul Khadzhimba, para a assinatura de um tratado de “aliança e parceria estratégica”, como definiu o Kremlin. O acordo estabelece a criação de uma força militar conjunta destinada a proteger a fronteira do território. Moscovo compromete-se ainda a enviar cerca de 12 mil milhões de rublos (214 milhões de euros) em ajuda externa para o país até 2017 – desde 2005, a Rússia já gastou mais de 520 milhões de euros com o território.

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Foi em Sochi, a estância balnear no mar Negro, que o Presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o líder da Abkházia, Raul Khadzhimba, para a assinatura de um tratado de “aliança e parceria estratégica”, como definiu o Kremlin. O acordo estabelece a criação de uma força militar conjunta destinada a proteger a fronteira do território. Moscovo compromete-se ainda a enviar cerca de 12 mil milhões de rublos (214 milhões de euros) em ajuda externa para o país até 2017 – desde 2005, a Rússia já gastou mais de 520 milhões de euros com o território.

Para o Governo georgiano trata-se de “um passo na direcção da anexação da Abkházia pela Federação Russa”, segundo as palavras da ministra dos Negócios Estrangeiros, Tamar Beruchasvili. A NATO, a União Europeia e os EUA condenaram o acordo, partilhando das preocupações da Geórgia, e reiteraram o não reconhecimento da independência da Abkházia.

O avanço da Rússia é visto como uma resposta perante a aproximação da Geórgia na direcção da NATO, em virtude da anexação da península da Crimeia em Março. Após a cimeira de Gales em Setembro, a Aliança Atlântica anunciou que pretende criar um centro de treino no país, algo que definiu como mais um passo no processo de candidatura.

Para além da parceria militar, o acordo prevê a harmonização da legislação interna da Abkházia em linha com o que são as orientações da União Económica Euroasiática – o bloco de integração económica que engloba a Rússia, o Cazaquistão, a Arménia e a Bielorrússia. Segundo fontes georgianas, é provável que Moscovo avance para um procedimento nos mesmos moldes em relação à Ossétia do Sul, outra região separatista no interior do país, embora a Abkházia, situada ao longo da costa do mar Negro, assuma uma maior importância estratégica para a Rússia.

O anúncio promete piorar ainda mais as relações entre a Geórgia e a Rússia, que no Verão de 2008 entraram num conflito armado por causa das pretensões independentistas da Abkházia e da Ossétia do Sul. Depois de uma breve guerra, Moscovo reconheceu os dois territórios mas, apesar de ambos dependerem quase totalmente do apoio financeiro russo e de albergarem presença militar das Forças Armadas russas, a anexação nunca se concretizou.

Esse não seria, aliás, um cenário visto de forma totalmente favorável pelos dirigentes da Abkházia. Ao contrário da Ossétia do Sul, neste território de cerca de 240 mil habitantes o sentimento nacionalista está bastante desperto, tanto em relação à Geórgia como à Rússia. “Muitos estão preocupados porque querem manter o seu próprio projecto nacional, mas a dependência em relação à Rússia está a aumentar”, observa Sergei Markedonov, especialista em conflitos pós-soviéticos, citado pelo The Moscow Times.

Ao mesmo tempo que em Sochi se assinava o tratado, na capital da Abkházia, Sukhumi (150 quilómetros mais a sul na costa do mar Negro), uma pequena manifestação de mil pessoas protestava contra o acordo, segundo a agência TASS. Ainda assim, a acção de apoio ao aprofundamento das relações entre os dois países, convocada para o mesmo dia, contou com maior participação.