Polícia que matou Michael Brown não vai a julgamento e a violência regressou a Ferguson

Carros e edifícios incendiados, vidros de lojas partidos e gás lacrimogéneo disparado pela polícia — assim reagiu Ferguson à decisão do grande júri.

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Nos últimos dias, era muita a tensão que se vinha acumulando entre os habitantes de Ferguson, um subúrbio da cidade de St. Louis, enquanto aguardavam pela decisão do grande júri sobre o caso de Michael Brown o adolescente negro de 18 anos morto com seis tiros por um polícia.

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Nos últimos dias, era muita a tensão que se vinha acumulando entre os habitantes de Ferguson, um subúrbio da cidade de St. Louis, enquanto aguardavam pela decisão do grande júri sobre o caso de Michael Brown o adolescente negro de 18 anos morto com seis tiros por um polícia.

O veredicto foi anunciado pelo procurador de St. Louis, Bob McCulloch, que revelou “não ter sido encontrada uma causa provável para apresentar qualquer acusação ao agente [Darren] Wilson”. O júri decidiu tornar público o relatório por trás da decisão — um documento de mais de mil páginas — numa decisão pouco comum nos Estados Unidos, mas que se compreende pela consternação que o caso despertou junto da opinião pública.

A reacção foi imediata, com várias ruas de Ferguson a serem tomadas por milhares de pessoas furiosas com a decisão. A maioria das manifestações foi pacífica, diz a CNN, mas há várias imagens que mostram carros incendiados e lojas vandalizadas. Algumas pessoas partiram os vidros de um carro da polícia e de janelas de um restaurante, segundo a CNN.

Pedras e garrafas foram atiradas na direcção da polícia, que ripostou com o lançamento de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão. A violência dos protestos levou mesmo a Autoridade Federal de Aviação a restringir temporariamente os voos sobre St. Louis, com receio das balas disparadas para o ar.
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

O chefe da polícia de St. Louis, Jon Belmar, afirmou que os episódios de violência desta segunda-feira “foram piores que a pior noite de Agosto”, quando protestos quase diários tomaram conta das ruas de Ferguson, na sequência da morte de Michael Brown. Foram detidas pelo menos 29 pessoas, disse ainda Belmar.

Houve também manifestações noutras cidades norte-americanas como Nova Iorque, Chicago, Washington D.C. ou Seattle.

Durante meses, o júri — composto por 12 cidadãos escolhidos, dos quais apenas três negros, nota a BBC — ouviu 60 testemunhas e analisou provas recolhidas durante a investigação. “Estes jurados puseram os seus corações e as suas almas neste processo”, começou por dizer o procurador Bob McCulloch. No entanto, aquilo que ficou patente para o painel foi um conjunto de inconsistências entre aquilo que foi contado pelas testemunhas e os dados retirados das provas físicas.

Desde o início da investigação que coexistiam duas versões sobre aquilo que aconteceu naquela noite de 9 de Agosto. Os advogados da família de Michael Brown afirmaram que o jovem estava a tentar render-se quando foi baleado e que terá mesmo gritado “Não dispare!” a Darren Wilson — palavras que depressa se tornaram num slogan dos manifestantes.

Wilson, um agente branco de 28 anos, sempre argumentou que agiu em legítima defesa e que só disparou quando Brown se dirigiu para ele. Segundo o relatório do júri, o agente terá sido agredido uma primeira vez por Brown, enquanto tentava sair da viatura, e temia pela sua vida. “Quando o agarrei, a única forma que consigo descrever é que me senti como um miúdo de cinco anos agarrado a um Hulk Hogan”, disse Wilson aos jurados, referindo-se a um célebre lutador de wrestling.

“Muitas das testemunhas reconheceram não terem visto os disparos”, disse o procurador.

Foram várias as vozes a apelarem à calma, desde o Presidente, Barack Obama, até ao pai do jovem, Michael Brown.

“Somos uma nação construída sobre o estado de direito e, portanto, temos de aceitar que esta decisão pertencia ao grande júri”, disse Obama durante uma declaração transmitida pela televisão, após a decisão. Obama reconheceu que “a situação de Ferguson relaciona-se com desafios mais abrangentes” que a sociedade norte-americana ainda tem que enfrentar. “O facto é que em muitas partes deste país existe uma profunda falta de confiança entre a polícia e as comunidades de cor”, acrescentou.

Ainda antes de ser conhecida a conclusão do grande júri, o pai do jovem morto pediu “uma mudança positiva”, mas sem violência. “Magoar os outros ou destruir propriedade não é a resposta. Independentemente do que decida o grande júri, não quero que a morte do meu filho tenha sido em vão”, disse Michael Brown Sr., citado pela CNN. “Quero uma mudança incrível, uma mudança positiva. Uma mudança que faça de St. Louis uma região melhor para todos.”