A factura de Passos Coelho

Um nome forte pode fazer um Governo mais fraco.

Para fora, para a sociedade civil, esta escolha do chefe do Governo transmite uma mensagem mais forte. Ao contrário do que muitos dos seus adversários têm repetido, afinal parece que Passos consegue atrair nomes de qualidade, no caso, uma académica brilhante, que nunca precisou da política para ver os seus méritos reconhecidos por gente dos mais variados quadrantes, como provam as reacções à sua nomeação. Ao mesmo tempo, e acentuando muito do que tem sido a sua marca desde a formação do Governo, o primeiro-ministro mostra que as suas opções de eleição se situam muito para além das barreiras partidárias. Como se viu pelas escolhas de Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira, Nuno Crato, Poiares Maduro, Paulo Macedo e mais um punhado de secretários de Estado colocados em lugares-chave, muitas das mais importantes escolhas de Passos vieram de fora do PSD. E mesmo nomes como Maria Luís Albuquerque e Carlos Moedas, por exemplo, só se inscreveram no partido poucos meses antes das eleições. Ou seja, não tinham propriamente história entre a militância social-democrata – a sua ligação primordial é a Passos Coelho e não propriamente ao PSD.

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Para fora, para a sociedade civil, esta escolha do chefe do Governo transmite uma mensagem mais forte. Ao contrário do que muitos dos seus adversários têm repetido, afinal parece que Passos consegue atrair nomes de qualidade, no caso, uma académica brilhante, que nunca precisou da política para ver os seus méritos reconhecidos por gente dos mais variados quadrantes, como provam as reacções à sua nomeação. Ao mesmo tempo, e acentuando muito do que tem sido a sua marca desde a formação do Governo, o primeiro-ministro mostra que as suas opções de eleição se situam muito para além das barreiras partidárias. Como se viu pelas escolhas de Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira, Nuno Crato, Poiares Maduro, Paulo Macedo e mais um punhado de secretários de Estado colocados em lugares-chave, muitas das mais importantes escolhas de Passos vieram de fora do PSD. E mesmo nomes como Maria Luís Albuquerque e Carlos Moedas, por exemplo, só se inscreveram no partido poucos meses antes das eleições. Ou seja, não tinham propriamente história entre a militância social-democrata – a sua ligação primordial é a Passos Coelho e não propriamente ao PSD.

Um Governo deste tipo, de perfil tecnocrata, de personalidades de gabinete mais ligadas a números e a estudos académicos do que às “trivialidades” da vida real, só consegue ter êxito se for devidamente enquadrado por um núcleo duro político forte e capaz de traçar as orientações e as mensagens adequadas ao cumprimento dos objectivos definidos pelo executivo. Ora esta foi, justamente, uma das debilidades do Governo Passos desde a primeira hora. Não há, nem nunca houve, coordenação política, mas é caricato perceber-se que, ao menos do lado do CDS, surge um bloco a funcionar em uníssono, tão capaz de se fingir de morto como acontece, agora, no caso dos vistos gold, como eficaz quando quer fazer passar o seu capital de queixa para os media. Governar assim paga-se. Desde logo pelo funcionamento da coligação, que nunca foi coesa e cujo clima de crise e intriga permanente saiu bem cara ao país, em alguns momentos. A saída de Miguel Macedo vai acentuar ainda mais  este vazio de coordenação política, mas a relutância do primeiro-ministro em fazer uma remodelação profunda só se explica pelo receio de provocar abalos acrescidos num edifício já de si periclitante. Ainda há pouco teve de segurar Nuno Crato, Paula Teixeira da Cruz e o próprio Macedo, que tentou sair no primeiro momento desta crise. Passos pode ter feito uma boa escolha para a Administração Interna, mas o Governo ficou mais fraco. Governar assim paga-se.