Juízes timorenses “apavorados” pedem ajuda

Magistrados portugueses contactados por colegas timorenses que temem pela vida. Organismo internacional condena expulsão.

Foto
Xanana Gusmão disse que o país soube consolidar o desenvolvimento democrático Miguel Madeira

“Um dos três juízes do Tribunal de Recurso [a instância judicial máxima em Timor]  telefonou a um dos juízes portugueses expulsos de Timor e pediu-lhe ajuda. Disse que estava numa casa cuja localização penso ser desconhecida das autoridades. Não tenho dúvida nenhuma de que estes magistrados estão apavorados”, refere a magistrada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Um dos três juízes do Tribunal de Recurso [a instância judicial máxima em Timor]  telefonou a um dos juízes portugueses expulsos de Timor e pediu-lhe ajuda. Disse que estava numa casa cuja localização penso ser desconhecida das autoridades. Não tenho dúvida nenhuma de que estes magistrados estão apavorados”, refere a magistrada.

Foi precisamente esta quarta-feira que se assinalaram os 23 anos sobre o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Informações chegadas a Glória Alves dão conta de que na cerimónia que ali teve lugar, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, foi apupado e apelidado de corrupto. A procuradora pensa que o perigo que correm os seus colegas tem mais que ver com um eventual linchamento popular do que com aquilo que as autoridades lhes possam vir a fazer: “Em Timor é fácil criar focos de instabilidade popular e inflamar as massas, e já sucederam linchamentos no passado.”

Também expulso daquele território, o juiz Eduardo Neves ignora o que poderá ter sucedido aos magistrados do Tribunal de Recurso, mas não o surpreende o relato segundo o qual terão tido de se refugiar fora de suas casas. “Já esperava isto. Estamos todos muito preocupados com os colegas timorenses que lá ficaram”, diz. “Desde o início que me pareceu que tudo isto era um plano: primeiro quiseram retirar os juízes internacionais para depois enfraquecer o poder dos que ficam. Se fazem o que fizeram aos internacionais, eu receio muito do que podem vir a fazer aos juízes timorenses. Temo o pior.”

Eduardo Neves adianta que tinham suspeitas, quando lá estavam, de que estavam a ser escutados pelo Governo timorense ou por serviços secretos australianos. Por isso, teme que qualquer informação ou pedido de ajuda que os juízes timorenses enviem seja interceptado”. A União Internacional de Magistrados aprovou uma resolução a condenar a expulsão de que foram alvo vários juízes e procuradores estrangeiros que ali prestavam serviço.