Quem quiser desafiar o espaço público terá o matadouro municipal da Feira à disposição

Câmara desiste da construção de um pólo de raiz para concepções artísticas. Esta opção política é alvo de críticas

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Nelson Garrido

O projecto inicial de construir um edifício de raiz, cuja primeira pedra chegou a ser lançada, para as criações artísticas acaba de ser abandonado. A Câmara da Feira optou por recuperar o matadouro municipal que, de uma forma pontual, já tem vindo a ser palco de peças e performances. Depois da intervenção, reabrirá em 2015 para receber artistas nacionais e internacionais.

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O projecto inicial de construir um edifício de raiz, cuja primeira pedra chegou a ser lançada, para as criações artísticas acaba de ser abandonado. A Câmara da Feira optou por recuperar o matadouro municipal que, de uma forma pontual, já tem vindo a ser palco de peças e performances. Depois da intervenção, reabrirá em 2015 para receber artistas nacionais e internacionais.

Gil Ferreira, vereador da Cultura, realça a localização privilegiada do matadouro, perto do centro da cidade e junto à linha do Vale do Vouga, para justificar a mudança de planos. “Trata-se de um espaço identitário que tem muito mais a contar nesta nova missão. Com a reabilitação e recuperação do matadouro, devolvemos à comunidade e à cidade um espaço no seu centro para a criação artística contemporânea que se destina a desenvolver projectos educativos e performances de teatro, de dança, de música, de áreas multidisciplinares”, adianta. O responsável fala numa transformação do matadouro que muda de missão, tornando-se num local de transformação humana com criações artísticas que questionem a sociedade. “Estará à disposição dos que querem desafiar o espaço público com objectos artísticos”. E não haverá fronteiras, já que as portas estarão abertas para todos os artistas, independentemente da nacionalidade.

Politicamente, a decisão tem sido alvo de críticas, não pelo reaproveitamento do matadouro, mas pelos “ziguezagues” na condução do processo que obrigou à reformulação da candidatura. “Era mais prudente recuperar o matadouro que já tem essa vocação artística, do que construir um novo edifício”, refere o presidente da Câmara da Feira, Emídio Sousa. O autarca apresenta dois argumentos: a localização do matadouro e a possibilidade da autarquia poder, no futuro, utilizar alguns equipamentos, como o Europarque. “Vamos requalificar um matadouro em ruínas e que é nosso”, sublinha.

A líder da bancada do PS na Assembleia Municipal da Feira, Margarida Gariso, critica este recuo que, na sua opinião, desvirtuará o projecto apresentado inicialmente. “Estamos num campeonato completamente diferente, estamos a competir num outro nível”, refere ao PÚBLICO, lamentando que se tenha gasto dinheiro numa obra que afinal não vai ser construída. “Só podemos criticar e lamentar que a câmara apresente este projecto com alguma ambição e que agora acaba por cair por terra. Volta-se à estaca zero”, diz.

A Concelhia da Feira da CDU vai levar o assunto à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, onde está representada. O problema não é a reabilitação do matadouro, que apoia, mas sim o recurso a fundos comunitários que não foram aproveitados. “Não se compreende que se comece uma obra, que se pare, e se comece a obra noutro sítio para a mesma coisa”, refere Filipe Moreira, da CDU feirense.

Emídio Sousa faz contas. Cerca de 200 mil euros foram gastos no projecto e obra do pólo que já não vai ser construído, e que representaria um investimento de três milhões de euros, com uma comparticipação municipal de 15 por cento. Quantia equivalente será investida no arranjo da cobertura do matadouro e na instalação do ar condicionado no cineteatro da cidade. O autarca garante que há uma poupança. “Deixaremos de gastar meio milhão de euros nesse pólo”, diz, acrescentando que não se pode esquecer a factura dos custos de despesas de manutenção e funcionamento do novo edifício.