Um antigo sonho

A França é hoje uma potência menos que média; perdeu a sua supremacia cultural e já não interessa seriamente ninguém. Mas deixou uma herança envenenada, a “Europa”.

Nada disto é estranho. Portugal não podia escolher o modelo da Espanha, de que um velho antagonismo nos separava. Nem o de Inglaterra, que exercia sobre nós um protectorado humilhante. Nem da Alemanha, um país radicalmente estranho e uma língua radicalmente diferente. Sobrava a França. E os portugueses copiavam com entusiasmo a moda francesa, a literatura francesa e a política francesa, que se discutia com ardor nos cafés.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Nada disto é estranho. Portugal não podia escolher o modelo da Espanha, de que um velho antagonismo nos separava. Nem o de Inglaterra, que exercia sobre nós um protectorado humilhante. Nem da Alemanha, um país radicalmente estranho e uma língua radicalmente diferente. Sobrava a França. E os portugueses copiavam com entusiasmo a moda francesa, a literatura francesa e a política francesa, que se discutia com ardor nos cafés.

Salazar interrompeu esta tradição. Mas mesmo ele admirava Maurras e protegeu os restos da “Acção Francesa” no fim da guerra. De qualquer maneira, a esquerda clandestina ou discreta continuava a admirar fervorosamente a prosa e poesia que o PCP (ou amigos do PCP) contrabandeavam de França e alguns livreiros vendiam por baixo do balcão. Até jornais cá chegavam, ajudados pela distracção dos CTT ou pela ignorância da polícia. No “25 de Abril”, evidentemente, Portugal queria como a França copiar a revolução de Lenine e ascender depressa à prosperidade do Ocidente. A esquerda penava  quase exclusivamente pelo marxismo académico francês. As massas prendiam os capitalistas mais notórios.

Como se sabe, a França pouco a pouco enfraqueceu. É hoje uma potência menos que média; perdeu a sua supremacia cultural (que vinha do século XVIII); e já não interessa seriamente ninguém. Mas deixou uma herança envenenada, a “Europa”, montada por um francês, o sr. Delors, à imagem da burocracia francesa. A grande ambição de Portugal mudou: agora só pensava em ser “como na Europa” ou, pelo menos, “como a média da Europa”. Não ocorreu a Soares, nem a Cavaco, nem ao cristianíssimo eng. Guterres que o país não tinha os meios desta simpática ambição. E assim nasceram auto-estradas, o papel social do Estado (que não acaba na saúde, na educação, e nas reformas) e 700 mil funcionários públicos para atender às necessidades dos portugueses. Não, não gastámos de mais. O que fizemos foi seguir a nossa natureza e os desejos de gerações que se perderam na obscuridade e na frustração.