George Sluizer (1932-2014): morreu o realizador de Jangada de Pedra

Cineasta holandês dirigiu igualmente o último filme de River Phoenix.

Foto
George Sluizer no ano passado GERHARD KASSNER / BERLINALE

Fora de Portugal, a memória de Sluizer está indelevelmente ligada àquele que foi o último filme protagonizado por River Phoenix, Dark Blood, inacabado durante 20 anos devido à trágica morte do actor em Los Angeles em 1993, e que o cineasta holandês finalmente completou em 2013, “enquanto ainda podia fazê-lo”, como disse ao apresentá-lo no Festival de Berlim nesse ano.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Fora de Portugal, a memória de Sluizer está indelevelmente ligada àquele que foi o último filme protagonizado por River Phoenix, Dark Blood, inacabado durante 20 anos devido à trágica morte do actor em Los Angeles em 1993, e que o cineasta holandês finalmente completou em 2013, “enquanto ainda podia fazê-lo”, como disse ao apresentá-lo no Festival de Berlim nesse ano.

O ponto alto da carreira de George Sluizer, nascido em Paris em 1932, reside contudo num dos mais aclamados filmes europeus da década de 1980: O Homem que Queria Saber (1988), adaptação do romance policial de Tim Krabbé sobre um homem cuja noiva desaparece durante uma viagem e que, três anos depois, é contactado pelo responsável. Um conto macabro com uma notável interpretação do actor francês Bernard-Pierre Donnadieu no papel do vilão, O Homem que Queria Saber tornou-se num êxito crítico e público internacional que levou Sluizer a Hollywood, onde dirigiu em 1993 uma mal recebida remake com Jeff Bridges, Kiefer Sutherland e Sandra Bullock, A Desaparecida.

Foi nessa altura que o cineasta encetou Dark Blood, rodado nos EUA com um elenco que incluia igualmente Jonathan Pryce e Judy Davis, mas que ficaria por terminar devido à morte de River Phoenix a meio da rodagem. Com o material filmado bloqueado por questões de direitos durante as duas décadas que se seguiriam – e com Sluizer a entrar em posse das bobines de modo mais ou menos esquivo para impedir que fossem destruídas –, foi só em 2013 que o cineasta apresentou a montagem possível do filme, numa altura em que já se encontrava fisicamente muito frágil na sequência de um aneurisma sofrido em 2007. A interrupção do filme acabaria por efectivamente travar a carreira americana do cineasta.

Aluno de cinema em Paris, onde estudou com Jean Renoir e Alain Resnais, Sluizer alternou inicialmente documentários e encomendas para a televisão holandesa antes de se estrear na longa-metragem de ficção em 1972 com João e a Faca, rodado no Brasil. Deve-se-lhe igualmente a adaptação para cinema do romance de Bruce Chatwin Utz.

Durante a II Guerra Mundial a família saiu da Holanda, vivendo durante algum tempo em Portugal – país onde captou imagens para vários documentários para a televisão holandesa e rodaria dois filmes, a comédia Mortinho por Chegar a Casa (1996), co-dirigida com Carlos da Silva, e A Jangada de Pedra (2002). Envolvido desde sempre na defesa da causa palestiniana - o que o levou inclusive a ser acusado pelo governo israelita de “libelo de sangue” por ter acusado Ariel Sharon de matar palestinianos à queima-roupa em 1982 – Sluizer realizou igualmente uma série de documentários sobre famílias palestinianas impossibilitadas de regressar à sua terra natal, o último dos quais, Homeland, foi estreado em 2010.