Um novo desastre

A América, a França do sr. Hollande e a Inglaterra de Cameron fariam melhor se tratassem do problema em casa.

Na Síria, a América interveio com cuidado, e com o acordo da Rússia, mas mesmo assim acabou por produzir o exército de guerrilheiros hoje conhecido por Estado Islâmico. Entretanto, estas proezas criaram um caos político, de que não se vê bem o fim. Bush entregou o Iraque aos xiitas do Irão, que preparam uma bomba atómica e eram o seu inimigo por excelência no Médio Oriente. Os sunitas do Iraque atacam o governo da Síria e ocupam já vários campos de petróleo a norte de Bagdad. E o EI decapita e massacra as pequenas seitas (e são muitas, desde os yazidis aos cristãos).

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Na Síria, a América interveio com cuidado, e com o acordo da Rússia, mas mesmo assim acabou por produzir o exército de guerrilheiros hoje conhecido por Estado Islâmico. Entretanto, estas proezas criaram um caos político, de que não se vê bem o fim. Bush entregou o Iraque aos xiitas do Irão, que preparam uma bomba atómica e eram o seu inimigo por excelência no Médio Oriente. Os sunitas do Iraque atacam o governo da Síria e ocupam já vários campos de petróleo a norte de Bagdad. E o EI decapita e massacra as pequenas seitas (e são muitas, desde os yazidis aos cristãos).

Perante isto, Obama sabendo perfeitamente que a América não o seguirá na terceira guerra do Iraque (e talvez também na Síria), resolveu liquidar o EI com “drones” e aviões clássicos, sem pôr um soldado no terreno. Uma ideia absurda porque nunca se ganhou uma guerra sem infantaria e ocupação. O EI aprenderá depressa a evitar os gastos da ofensiva aérea e a proteger as suas actividades. Tarde ou cedo, Obama terá de desistir dessa guerra asséptica, ou voltará aos métodos tradicionais ou levará a tenda para mais verdes pastagens. O que seria o fim da América, como a maior potência mundial. Ouvindo o que dizem os generais de Bush em 2014 sobre a falta de método e de objectivos, não custa a acreditar que esta nova aventura também não se distinga pela lucidez política e militar.

Ainda por cima se a “coligação de vontades” de Bush tinha uma certa coerência (e acabou por se constatar que não tinha muita), a “coligação de vontades” do Presidente Obama não tem nenhuma. A Turquia, uma peça essencial, ficou de fora. A “Europa” (excepto como de costume a Inglaterra) foge de responsabilidades. A dezena de Estados muçulmanos que entraram na manta de farrapos congeminada por Obama, quando não se odeiam entre si, odeiam fraternalmente a América; e a sua “vontade” é a de aproveitar a “coligação” para os seus fins próprios, doa a quem doer. A América, a França do sr. Hollande e a Inglaterra de Cameron, onde se recrutaram à volta de 10.000 combatentes do EI, fariam melhor se tratassem do problema em casa, em vez de se armarem em polícias do mundo, coisa que ninguém lhes pediu ou agradece.