Matías continua a "Piñeirizar" Shakespeare: La Princesa de Francia em Locarno

O argentino Matías Piñeiro inspira-se em Shakespeare e na Nouvelle Vague para uma deliciosa comédia de amores cruzados

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Uma das cinco mulheres que orbitam Victor, o herói romântico de La Princesa de Francia, está a fazer uma tese sobre o pintor francês William-Adolphe Bouguereau. E a sua obsessão por reconhecer todos os traços e coleccionar todas as referências do artista leva-a a dizer que foi "Bouguereautada" - ou seja, contaminada pela visão do artista. 

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Uma das cinco mulheres que orbitam Victor, o herói romântico de La Princesa de Francia, está a fazer uma tese sobre o pintor francês William-Adolphe Bouguereau. E a sua obsessão por reconhecer todos os traços e coleccionar todas as referências do artista leva-a a dizer que foi "Bouguereautada" - ou seja, contaminada pela visão do artista. 

É uma boa definição do universo do argentino Matías Piñeiro, que à imagem da moça "Bouguereautada", tem vindo a "Piñeirizar" Shakespeare como ponto de partida para os seus filmes. La Princesa de Francia (Concurso Internacional), a sua quinta longa oficial, é o mais recente título de uma série que usa peças do bardo britânico como ponto de partida - aqui, é Penas de Amor Perdido, depois de Como lhe Aprouver na média Rosalinda e Noite de Reis em Viola, que passou no Lisbon & Estoril o ano passado. E confirma  Piñeiro como experimentador de uma Nouvelle Vague reinventada: os jogos realidade/ficção, cinema/teatro de Jacques Rivette ou Alain Resnais, os amáveis contos diletantes e flâneurs sobre gente apaixonada de Éric Rohmer são referências evidentes nesta história de amores cruzados à volta de uma produção radiofónica da comédia de Shakespeare, introduzidas por um jogo de futebol de cinco ao som de Schumann. 

A "princesa de França" do título, sublinhando o humor subtil e subversivo de Piñeiro, é Victor, o encenador e actor à volta do qual orbitam as cinco mulheres que já foram, ainda são ou querem ser suas namoradas. Como sempre no cinema de Piñeiro, há uma companhia de actores recorrentes, quase de "reportório", deliciando-se (e deliciando-nos) com variações improvisadas sobre os romances dos nossos dias, e o argentino filma estes jogos de amor com uma leveza e uma delicadeza que recorda as fugazes queimaduras de Verão. É um passo em frente, seguríssimo e contagiante, face a Viola.

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