Treze homens vão ser julgados no Egipto por violações em grupo

Decisão inédita após agressões cometidas em 2013 e este ano na Praça Tahrir, no Cairo.

Foto
Grafitti numa parede no Cairo a apelar ao fim do assédio sobre as mulheres PATRICK BAZ/AFP

Os 13 homens foram detidos por crimes cometidos a 25 de Janeiro de 2013, quando se celebrava dois anos sobre a revolução, e a 3 e 8 de Junho deste ano, datas em que milhares de pessoas estiveram na Praça Tahrir para celebrar a eleição de Abdel Fattah al-Sissi.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os 13 homens foram detidos por crimes cometidos a 25 de Janeiro de 2013, quando se celebrava dois anos sobre a revolução, e a 3 e 8 de Junho deste ano, datas em que milhares de pessoas estiveram na Praça Tahrir para celebrar a eleição de Abdel Fattah al-Sissi.

Segundo descrições do gabinete do ministério público egípcio, a 3 de Junho, dois grupos estiveram na praça e cercaram uma mulher e a sua filha. A mulher foi levada para uma mesquita próxima do local, onde foi atacada e violentamente agredida. Durante o ataque, foi-lhe despejada água a ferver sobre o corpo, o que a deixou gravemente ferida. “Os agressores cercaram-na e atacaram-na sexualmente até à chegada da polícia”, indica a mesma fonte, citada pela AFP.

Cinco dias depois deste incidente, várias mulheres, com idades entre os 17 e 42 anos, foram atacadas pelos mesmos homens. “Separam-nas, depois atacaram-nas e bateram-lhes, chegando a ameaçar levar os filhos de uma delas”.

Dois homens foram detidos por uma agressão semelhante em Janeiro do ano passado, na Praça Tahrir, durante o segundo aniversário da revolução egípcia, quando milhares de manifestantes protestaram contra o Presidente Mohamed Morsi e a Irmandade Muçulmana. Estima-se que pelo menos nove mulheres foram abusadas sexualmente.

Entre os acusados que vão agora a julgamento, sete foram detidos após a agressão a uma estudante nas celebrações da tomada de posse de Sissi, não estando confirmado se estão envolvidos no crime. A agressão à jovem foi filmada com um telemóvel e as imagens da estudante, nua e ensanguentada no meio da multidão, acabaram por chegar às redes sociais, indignando milhares de pessoas no Egipto.

Os 13 homens que se vão sentar no banco dos réus, entre eles um menor, segundo a AFP, vão ser julgados numa data a anunciar por rapto, violação, agressão sexual, tentativa de homicídio e tortura, acusações que podem ser sentenciadas com prisão perpétua.

Esta é a primeira vez que alguém é levado perante a justiça por violação em grupo, apesar de as agressões sexuais serem recorrentes no país. Em 2011, estas agressões não foram apenas sobre egípcias mas também sobre jornalistas estrangeiras. Lara Logan, correspondente da CBS e repórter do programa "60 Minutos”, foi sexualmente agredida no Cairo, no dia em que se soube que o Presidente egípcio, Hosni Mubarak, tinha renunciado ao poder.

A jornalista estava a cobrir os festejos na Praça Tahrir, quando a sua equipa foi rodeada por cerca de 200 pessoas. No meio da confusão, Logan foi sexualmente agredida, de forma “brutal e ininterrupta”, segundo avançou na altura a CBS. A jornalista acabou por ser resgatada por um grupo de mulheres e membros do Exército.