Sissi proclamado Presidente do Egipto, com 96,9% dos votos

Diz a Comissão Eleitoral que votaram 47% dos eleitores no maior dos países árabes. O único rival, que tivera 21,5% nas presidenciais de 2012, não foi além dos 3%.

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Sissi sucede a Morsi, que foi eleito depois da queda de Mubarak Amr Abdallah Dalsh/Reuters

É apenas uma confirmação dos resultados não-oficiais, que, por sua vez, confirmavam as expectativas de todos os egípcios – e de todas as pessoas que tenham acompanhado o último ano no Egipto.

O ex-chefe do Exército Abdel Fattah al-Sissi, líder de facto do maior dos países árabes desde que derrubou do poder o islamista Mohamed Morsi, há onze meses, sucede-lhe, obtendo 96,91% dos votos.

Morsi está preso, o seu partido foi ilegalizado, e dezenas de milhares de potenciais rivais, do campo islamista ao dos jovens progressistas que iniciaram a revolução de 2011 contra Hosni Mubarak, estão detidos ou escondidos.

Havia um rival no boletim de votos, o nacionalista de esquerda Hamdeen Sabahi, que reuniu, segundo os resultados agora confirmados pela Comissão Eleitoral, 757 mil votos (3,09%).

Em Sissi escolheram votar 23.780.104 dos egípcios que foram às urnas.

Sabahi vai certamente questionar este resultado – assim como os números da abstenção; na sexta-feira, o candidato descreveu os resultados preliminares, que lhe atribuíam 3,8% (e menos boletins do que os considerados nulos), como “um insulto à inteligência dos egípcios”.

Não só é difícil acreditar nos números da abstenção como Sabahi tem dificuldades em perceber como é que passou de 21,5% nas eleições de 2012 (quando dezenas de candidatos de todos os campos políticos competiram entre si) para os valores actuais. Morsi foi então obrigado a disputar uma segunda volta contra Ahmed Shafiq, o candidato dos militares e do regime, acabando por ser eleito com 52%.

As eleições que deveriam ter decorrido ao longo de dois dias, segunda e terça-feira, dias 26 e 27 de Maio, acabaram por durar três dias, com as diferentes instituições do Estado sem conseguirem disfarçar o pânico perante assembleias de voto vazias.

Sissi – que não fez campanha nem apresentou programa, prometendo apenas “esmagar o terrorismo” e recuperar a economia – pedira o apoio de 80% do eleitorado (ou 40 milhões de egípcios). Mesmo que tenham votado os 47,45% anunciados esta terça-feira pela Comissão Eleitoral, a participação ficou bastante aquém do que desejava o militar.

Morsi foi o primeiro chefe de Estado escolhido em eleições livres e democráticas na história do Egipto – e o único não-militar. Mubarak foi “faraó” durante três décadas, mas a ditadura egípcia teve sempre uma fundação militar. Face à revolta de Janeiro de 2011, os militares escolheram deixar cair Mubarak para salvar o regime.

O ano passado, aproveitando os gigantescos protestos dos jovens egípcios contra Morsi, acusado de autoritarismo e de querer islamizar o Egipto, os generais viram a oportunidade para recuperar o poder – cedido, a custo, após meses de manifestações contra a junta que assumiu o controlo do país com a detenção de Mubarak.

Desde então, mais de 1400 egípcios que se manifestavam em apoio a Morsi foram mortos e mais de 15 mil membros da Irmandade Muçulmana foram encarcerados, com centenas entretanto condenados à morte.

O Movimento 6 de Abril, fundamental no período pré-revolução, ao marcar algumas das primeiras manifestações contra a ditadura, e um dos que iniciaram a concentração na Praça Tahrir, a 25 de Janeiro de 2011, também tem vários dos seus principais líderes na prisão.

Ainda são poucas as reacções ao resultado esmagador de Sissi. Os primeiros a reagir foram os sauditas, que, num telegrama, saudaram esta “vitória histórica”. Um dos principais aliados de Sissi, o rei Abdullah, agradece-lhe ter dizimado a Irmandade Muçulmana. E apelou à realização de uma conferência de doadores para “ajudar o Egipto a sair da sua crise económica”.

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