Porto Vivo tem projecto para ilha habitada em ruína mas falta investimento

Casas são da Misericórdia de Lamego que diz não ter recursos. Nunca surgiram investidores privados para executar o projecto que passa pela demolição. Junta vai solicitar vistoria urgente à Protecção Civil

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Do total de 30 casas, apenas três estão habitadas apesar de estarem em ruína Renato Cruz Santos

“O projecto tem três anos, mas nunca avançou porque não apareceram investidores privados. Vamos agora entregar isto a uma promotora imobiliária para que encontre um investidor. O projecto passa por demolir as casas e colocar outro edificado”, explicou Marques Luís. O provedor admitiu que a SCML não tem “recursos para investir”.

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“O projecto tem três anos, mas nunca avançou porque não apareceram investidores privados. Vamos agora entregar isto a uma promotora imobiliária para que encontre um investidor. O projecto passa por demolir as casas e colocar outro edificado”, explicou Marques Luís. O provedor admitiu que a SCML não tem “recursos para investir”.

Aliás, o responsável assumiu mesmo que até agora a SCML não teve também meios para recuperar as casas. No local, o PÚBLICO testemunhou a profunda ruína em que as casas se encontram. Do total das casas na rua João das Regras, só três estão a ser habitadas e mesmo nessas as condições são manifestamente insalubres.

Se a SCML não conseguir encontrar um investidor então “irá tentar devolver as condições necessárias às habitações em uso”, garantiu Marques Luís. Contactado pelo PÚBLICO, o provedor da Misericórdia do Porto, António Tavares, disse que a instituição está disponível para realojar os moradores em melhores condições no Centro de Alojamento Social D. Manuel Martins.

Fonte da Câmara da Porto (CMP) explicou que a SRU, uma empresa de capitais públicos participada pela autarquia e pelo Estado, não “tem qualquer responsabilidade” uma vez que não investe na recuperação de imóveis privados, recebendo os projectos que aprova e para os quais agiliza os licenciamentos.

António Teixeira, 50 anos, vive na casa 9, um espaço exíguo onde a sala, o quarto, a cozinha e a casa de banho se confundem. Ele dorme num sofá e os filhos num velho colchão virado para um buraco na parede onde antes havia uma janela. Lá desde 1997, admite que há vários anos que não paga a renda de 115 euros. António deverá ter casa municipal dentro de um mês. Ao lado, Emília de 52 anos, continua a pagar a renda de oito euros, mas há dois anos teve de mudar para uma casa na mesma rua por questões de “saúde”.

“É incrível como a SCML deixou isto chegar a este ponto. Isto está em ruína. Não se percebe”, criticou terça-feira numa visita, o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, António Fonseca, que garantiu que vai esta quarta-feira solicitar uma vistoria “urgente” à Protecção Civil.

Aquilo que outrora apresentava a traça nova de uma bairro operário é hoje um edificado apodrecido e deserto com sinais de ocupação. No local, o  PÚBLICO encontrou vestígios que relacionam o uso de algumas casas com a toxicodependência.

Em resposta ao PÚBLICO, a CMP disse não ter responsabilidade sobre habitações privadas, mas que desencadeará processos de realojamento se solicitados pelos moradores. Um despacho recente da CMP impede os senhorios de voltarem a arrendar sem obras. Se não o fizerem a própria CMP sela os edifícios.