Amianto suspeito de mortes por cancro em edifício das Finanças

Nos últimos seis anos, registaram-se 14 casos de cancro em trabalhadores do chamado "edifício do IVA". Seis morreram.

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PÚBLICO

“Houve casos de cancro do pulmão, esófago, de pele e vários cancros de mama, e em pessoas novas, quase todas entre os 40 e os 50 anos”, descreveu um trabalhador do chamado “edifício do IVA”. Os funcionários que morreram eram todos do quarto piso, onde estava a direcção de pessoal.

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“Houve casos de cancro do pulmão, esófago, de pele e vários cancros de mama, e em pessoas novas, quase todas entre os 40 e os 50 anos”, descreveu um trabalhador do chamado “edifício do IVA”. Os funcionários que morreram eram todos do quarto piso, onde estava a direcção de pessoal.

Apesar de sublinhar que não pode provar a relação entre os cancros e a presença de amianto, uma médica responsável pela saúde ocupacional dos trabalhadores deste edifício durante 20 anos, Anabela Miranda, estranha o facto de os cancros afectarem pessoas novas e a trabalhar activamente e acrescenta que havia ainda problemas respiratórios “às centenas”.

Também Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), expressa as suas suspeitas sobre estes casos, considerando que “a taxa de incidência de cancro naquele edifício é superior ao normal”. No edifício trabalham mais de 600 pessoas.

Ao longo dos últimos anos, foram efectuadas várias intervenções para a remoção dos materiais contendo amianto no edifício. A última foi feita no ano passado. Esta remoção poderá ter contaminado o espaço, porque várias regras de segurança não terão sido cumpridas, segundo um ex-funcionário da empresa que efectuou os trabalhos, a Construtora de Lages, que apresentou uma queixa à Autoridade para as Condições de Trabalho.

O STI reclama agora a realização de novas análises ao ar para para perceber se existem ou não fibras de amianto. Paulo Ralha quer que “um laboratório isento” faça análises e que os resultados sejam tornados públicos. Os resultados dos últimos testes laboratoriais, segundo o jornal, não foram divulgados.

O Diário de Notícias procurou obter esclarecimentos do Ministério das Finanças, que tutela a Autoridade Tributária e Aduaneira, sem sucesso. O PÚBLICO já contactou a tutela e espera uma resposta.

A administração central possui há anos listas com cerca de 900 edifícios governamentais, sobretudo escolas, que podem conter materiais com amianto. A maior parte apenas regista, porém, se os edifícios têm ou não cobertura de fibrocimento.

Em bom estado e sem contacto com o ar interior, o fibrocimento é considerado um material sem grande risco e a sua remoção não é aconselhada senão quando um edifício é demolido ou remodelado. Mais problemáticos são os materiais com amianto “friáveis”, passíveis de libertar fibras, como os revestimentos de tubulações e caldeiras.