Diário de uma sala de aula escrito por uma aluna

Descrição de uma aula “normal” de Filosofia numa escola pública da zona de Lisboa, feita por uma aluna do 10.º ano, ramo de Artes.

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Adriano Miranda

Duas alunas pintam as unhas e quatro desenham gráficos nos diários. Um grupo ao fundo da sala joga às cartas. Eu escrevo este diário. Os telemóveis, os iPhones e os MP3 não param de tocar. A voz da professora vai mudando de intensidade enquanto lê o manual, ou quando faz perguntas que nunca têm resposta, ou ainda quando grita os apelidos dos alunos que tenta mandar calar ou sair. Ninguém obedece, claro está. 
A professora tenta novamente falar, porém os alunos brincam, interrompem-na, dão gargalhadas. Ela parece frustrada, zanga-se, toda a gente discute com ela; uns voltam-se para trás, outros viram-se para o lado em busca de apoio, a confusão está instalada. Por fim, a professora desiste e atira para o ar perguntas de ocasião (faz conversa), numa tentativa de ganhar de novo a simpatia dos alunos. Fala sobre os desenhos que fizeram, comenta as cores das unhas, discorre sobre a decoração da casa, discute os gostos musicais. Depois, então manda-nos ler um texto e fazer um resumo, mas como só três alunos têm o manual e só alguns, poucos, têm o caderno de apontamentos ninguém faz nada e este momento transforma-se noutro ‘intervalo’.

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Duas alunas pintam as unhas e quatro desenham gráficos nos diários. Um grupo ao fundo da sala joga às cartas. Eu escrevo este diário. Os telemóveis, os iPhones e os MP3 não param de tocar. A voz da professora vai mudando de intensidade enquanto lê o manual, ou quando faz perguntas que nunca têm resposta, ou ainda quando grita os apelidos dos alunos que tenta mandar calar ou sair. Ninguém obedece, claro está. 
A professora tenta novamente falar, porém os alunos brincam, interrompem-na, dão gargalhadas. Ela parece frustrada, zanga-se, toda a gente discute com ela; uns voltam-se para trás, outros viram-se para o lado em busca de apoio, a confusão está instalada. Por fim, a professora desiste e atira para o ar perguntas de ocasião (faz conversa), numa tentativa de ganhar de novo a simpatia dos alunos. Fala sobre os desenhos que fizeram, comenta as cores das unhas, discorre sobre a decoração da casa, discute os gostos musicais. Depois, então manda-nos ler um texto e fazer um resumo, mas como só três alunos têm o manual e só alguns, poucos, têm o caderno de apontamentos ninguém faz nada e este momento transforma-se noutro ‘intervalo’.

Há alunos entretidos a ler a banda desenhada e outros a conversar em voz baixa; um está com a cabeça deitada na mesa enquanto faz desenhos no caderno, outros enviam mensagens de telemóvel, há umas alunas que cantam ao mesmo tempo que batem no tampo da mesa para dar ritmo às palavras, outros pintam as mochilas. Dois alunos saem para ir à casa de banho e, de repente, um lápis voa pela sala. Há quem aproveite para comer, fruta ou sanduiches, e fale sobre o que vai fazer no intervalo. Enquanto isso, a professora vai conversando com os da fila da frente. No fundo, estão todos à espera do toque (faltam 15 minutos). As aulas de Filosofia são quase sempre assim, isto é um dia normal com esta professora”.