Sanções terão consequências, avisa Moscovo

Ministro dos Negócios Estrangeiros russo reagiu às sanções anunciadas pela União Europeia e Estados Unidos. Moscovo diz que Ocidente desrespeitou soberania da Ucrânia ao apoiar derrube de Ianukovich.

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O discurso de Putin, ouvido numa praça em Sebastopol, na Crimeia Viktor Drachev/AFP

Depois do referendo que os países ocidentais consideraram ilegal, mas onde a opção pela integração na Rússia recolheu 96,77% dos votos, Washington e a União Europeia anunciaram a imposição de sanções a 21 pessoas (políticos e chefes militares), acusadas de terem responsabilidades no processo que levou à realização da consulta.

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Depois do referendo que os países ocidentais consideraram ilegal, mas onde a opção pela integração na Rússia recolheu 96,77% dos votos, Washington e a União Europeia anunciaram a imposição de sanções a 21 pessoas (políticos e chefes militares), acusadas de terem responsabilidades no processo que levou à realização da consulta.

Terça-feira, após a assinatura de um tratado que integra a península do Mar Negro na Federação Russa, a Casa Branca garantiu que vai alargar as sanções já aprovadas e o vice-presidente, Joe Biden, acusou o Presidente Vladimir Putin de “confiscação de território”.<_o3a_p>

Horas depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, falou ao telefone com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Seguiu-se o comunicado do Ministério em Moscovo: “Os residentes da república da Crimeia fizeram a sua escolha democrática em linha com a lei internacional e com a Carta das Nações Unidas, o que a Rússia aceita e respeita. As sanções introduzidas pelos EUA e pela União Europeia são inaceitáveis e não vão permanecer sem consequências.” Lavrov não explicou o que quer dizer com consequências.<_o3a_p>

Um aviso idêntico foi feito esta quarta-feira por Igor Sechin, chefe da empresa estatal de energia russa. “Pensar em expandir sanções só vai piorar o conflito”, afirmou, numa visita a Tóquio. “Não ajuda a resolver o problema e não é produtivo”.<_o3a_p>

Sechin, aliado de Putin, falava num fórum de investimento entre a Rússia e o Japão. Durante a visita, ofereceu mais cooperação aos investidores japoneses nas áreas do petróleo e do gás – a viagem, que o levou ainda à India, ao Vietname e à Coreia do Sul, é um sinal de que a Rússia se vira para Leste, escreve a Reuters. <_o3a_p>

Também o Japão, que se tem aproximado de Moscovo, anunciou sanções por causa da Crimeia e ameaçou suspender as negociações sobre um pacto de investimento e novas regras para tornar mais fácil a obtenção de vistos por parte de cidadãos russos.

Depois do discurso apoteótico de Putin, celebrando a recuperação da Crimeia para a Rússia e assinando o acordo que permite a integração da península, os deputados russos disseram esta quarta-feira que vão tentar ratificar o acordo já nos próximos dias. “Todos os esforços estão a ser feitos para ratificar o acordo até sexta-feira”, disse esta quarta-feira o vice-presidente da Duma, Sergei Zhelezniak, num encontro com líderes da Crimeia.

O Tribunal Constitucional russo não perdeu tempo e esta quarta-feira já validou o acordo que integra a Crimeia na Rússia. “O Tribunal confirmou que o tratado respeita a Constituição. A decisão foi tomada por unanimidade”, disse o presidente do tribunal, Valeri Zorkin.

Acusações russas

O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros acusou os Estados Unidos e a UE de terem violado a soberania da Ucrânia ao terem "apoiado o golpe de Estado" que levou à queda do Presidente Viktor Ianukovich, em Fevereiro. Moscovo referiu-se ao Memorando de Budapeste, o tratado internacional assinado em 1994 pelos EUA, pelo Reino Unido e pela Rússia, que garante a integridade territorial da Ucrânia, que concordou em destruir o seu arsenal nuclear, na época o terceiro maior do mundo.

A violação do memorando tem sido um dos argumentos mais utilizados pelo Ocidente para condenar a intervenção russa na Crimeia, mas agora é Moscovo que o inverte, acusando as potências ocidentais de terem desrespeitado a soberania da Ucrânia.

Moscovo acusou ainda o Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, de ter cancelado uma visita à Rússia por se recusar a querer conhecer a "verdade" sobre a crise na Crimeia. "Não deixaram o Presidente do Conselho Europeu partir [para Moscovo] e, para mais, foi o seu próprio lado que não o deixou", afirmou o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, através de um comunicado.

"Por que é que ele haveria de querer saber a verdade se tudo já foi decidido", acrescentaram.

Na terça-feira, uma fonte diplomática da UE afirmou que estava, de facto, agendada uma visita de Van Rompuy a Moscovo, mas que ficou sem efeito a partir do momento em que a Rússia a publicitou. O objectivo do encontro de Van Rompuy com responsáveis russos era a "afirmação da nossa recusa em relação à anexação" da Crimeia, bem como discutir "a prevenção de novas iniciativas desestabilizadoras".