Uma nova República de Veneza independente de Itália?

Inspirados pelas iniciativas independentistas em curso na Escócia e na Catalunha, alguns habitantes de Veneza decidiram ouvir os eleitores da região sobre o seu futuro.

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Separatistas de Veneza inspiram-se na consulta catalã Gabriel Bouys/AFP

Organizado por um comité de cidadãos, o Plebescito.eu, o voto acontece depois de uma campanha financiada pela associação de empresários Veneto Business, um grupo pró-União Europeia e pró-euro.

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Organizado por um comité de cidadãos, o Plebescito.eu, o voto acontece depois de uma campanha financiada pela associação de empresários Veneto Business, um grupo pró-União Europeia e pró-euro.

“Quer que Veneto se torne uma República Soberana Federal?”, é a principal pergunta colocada nesta votação. Não é a única: quem votar “sim” terá ainda de dizer se quer que essa futura república adira à UE e à NATO e se deseja que use o euro. Para além destas perguntas de “sim” ou “não”, é ainda pedido aos eleitores para elegerem dez delegados para um comité que terá a cargo a gestão dos resultados. E, em caso de vitória do “sim”, a proclamação da independência.

A ideia dos promotores é sondar a população e, ao mesmo tempo, retirar legitimidade aos actuais líderes políticos, como se explica no site da iniciativa. O novo país inspirar-se-ia na antiga República de Veneza, a grande potência económica e política que existiu durante mais de um milénio, até à derrota face a Napoleão Bonaparte, em 1797.

Segundo a BBC, há sondagens que indicam que até dois terços dos quatro milhões de eleitores da região do Veneto favorecem uma separação do resto de Itália.

O Partido Independência de Veneza não integra o comité organizador desta votação mas não deixará de estar atento aos resultados – tal como o governador da região, Luca Zaia, da Liga Norte, defende a realização de um referendo futuro e acompanha os actuais processos em curso na Escócia e na Catalunha.

“Já não queremos fazer parte de um país que caminha para o desastre. Nada funciona”, disse à AFP Nicola Gardin, responsável do Partido da Independência. “A Itália cede debaixo de uma dívida pública enorme, há milhares de empresas que fecham, deixámos de contar o número de pessoas que se suicidam no Veneto.”

Segundo Gardin, a região paga 71 mil milhões de impostos a Roma, 21 mil milhões a mais do que recebe em serviços e investimentos. Mas o desejo de independência não tem “só razões económicas”, garante, também se trata de “proteger e fazer reviver" a cultura da região. “Já nem a história da República de Veneza nem a língua veneziana se ensinam na escola. O Estado apagou a nossa identidade”, queixa-se.

Tal como acontece em Espanha, a declaração de independência de uma qualquer região seria inconstitucional. Mas há precedentes, como a independência do Kosovo, ou os referendos do Quebeque, e o governador garante que uma eventual secessão respeitaria o direito internacional.

Luca Zaia quer esperar pelo referendo marcado para a Escócia, em Setembro, e perceber ainda o que se vai passar com a iniciativa da Catalunha, que quer votar a independência de Espanha a 9 de Novembro, uma consulta que Madrid considera ilegal e tenciona impedir. “Se Barcelona obtiver a independência, a região do Veneto poderá adoptar o mesmo método”, defende Zaia.

Quase ignorada pelos media italianos, o arranque desta iniciativa não escapou a alguns media russos, que compararam a votação no Norte de Itália com o que estava a acontecer domingo na Crimeia, a região de maioria russófona da Ucrânia que votou para integrar a Rússia.

A consulta em curso pode não ser vinculativa mas não é por isso que os resultados não serão celebrados. Depois de contados os votos, está marcada uma manifestação em defesa da independência para domingo em Pádua.