Activistas da banda Pussy Riot detidas e libertadas em Sochi

Activistas revelaram que foram detidas todos os dias desde que chegaram à cidade que alberga os Jogos Olímpicos de Inverno, no domingo.

Foto
Maria Alyokhina e Nadejda Tolokonnikova em Nova Iorque no início do ano Don Emmert/AFP

As activistas foram levadas para uma esquadra numa rusga policial e interrogadas, supostamente sob suspeita de roubo, sem a presença de um advogado. Ao fim do dia foram libertadas, sem qualquer acusação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As activistas foram levadas para uma esquadra numa rusga policial e interrogadas, supostamente sob suspeita de roubo, sem a presença de um advogado. Ao fim do dia foram libertadas, sem qualquer acusação.

Foi através do Twitter que Maria Aliokhina e Nadejda Tolokonnikova informaram que tinham sido detidas em Sochi – a mensagem na conta @tolokno vinha até acompanhada por uma fotografia tirada do interior de um carro da polícia, a caminho da esquadra. Em mensagens posteriores, as duas diziam que não conheciam a acusação contra elas e explicavam que seguiam pela rua, na zona portuária da cidade, quando foram atiradas para dentro de uma carrinha pela polícia local. “Não estávamos a fazer nenhum protesto. Estávamos a ANDAR NA RUA”, escreveu Tolokonnikova, de 24 anos.

As duas activistas não anunciaram a sua visita a Sochi, onde tencionavam participar em acções de protesto contra as olimpíadas e ainda gravar um vídeo musical intitulado “Putin vai ensinar-nos a amar a nossa pátria”. Citada pelo The Wall Street Journal, Nadejda Tolokonnikova explicou que o objectivo da banda era “chamar a atenção para a corrupção que rodeou a organização dos Jogos, para a supressão das liberdades pelas autoridades russas e ainda as condições desumanas nas prisões” do país.

 “Isto é o que acontece na Rússia”, lamentou a advogada das duas mulheres, Irina Khrunova, que não conhecia as “causas concretas identificadas para justificar a detenção”. Ao princípio da tarde, um outro defensor, Alexander Popkov, dizia à multidão de jornalistas que esperavam informações à porta de uma esquadra do bairro de Adler, em Sochi, que as duas integrantes do grupo Pussy Riot estavam incluídas num grupo de indivíduos – que podiam ser 15 ou 40 – detidos no âmbito de uma operação policial que envolveu dezenas de agentes.

“Alegadamente, terão estado envolvidos num roubo num hotel. As autoridades recusaram-se a explicar cabalmente as razões para a detenção”, observou. Além das duas mulheres, na mesma rusga policial foram detidos vários activistas e membros de organizações não-governamentais presentes em Sochi. Irina Khrunova disse à Reuters que a polícia também terá detido jornalistas acreditados para a cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.

À saída da esquadra, as activistas envergavam as tradicionais balaclavas com que sempre actuam: já na rua, e a alguns metros de distância, cantaram a sua nova música perante as câmaras. “Queremos denunciar a ocupação deste território. Esta cidade está sob o controlo total da polícia e do aparelho de segurança”, criticou Nadejda Tolokonnikova. “Aqui não há espaço para o protesto: quem disser qualquer coisa crítica será detido”, acrescentou.

No domingo, quando chegaram a Sochi, as duas foram detidas durante sete horas. Um dia depois, voltaram a ser levadas pela polícia e transportadas para umas instalações do Serviço de Segurança Federal na província da Abkházia, junto à fronteira com a Geórgia, onde permaneceram durante dez horas.

Aliokhina e Tolokonnikova beneficiaram de uma amnistia concedida pelo Presidente da Rússia a 23 de Dezembro e deixaram as prisões de Nijni Novgorod e da Sibéria onde cumpriam separadamente uma pena de dois anos por crimes de “hooliganismo agravado por ódio religioso”, referentes a uma actuação da banda na Catedral ortodoxa Cristo o Salvador de Moscovo, no Verão de 2012. A terceira integrante do grupo, Iekaterina Samutsevich, já tinha saído em liberdade, com pena suspensa, na sequência de um recurso judicial apresentado em Outubro de 2012.

À saída da prisão, as duas denunciaram o indulto presidencial como uma manobra de relações públicas do Kremlin, interessado em branquear a imagem autoritária do Presidente Vladimir Putin antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. “É uma cortina de fumo” para evitar que os países ocidentais boicotem o evento, sublinharam. Depois de prometerem manter o seu activismo político, Aliokhina e Tolokonnikova embarcaram num périplo pela Europa e Estados Unidos, onde realizaram conferências e participaram num concerto patrocinado pela Amnistia Internacional.

No início do mês, outras seis mulheres que integravam o colectivo punk Pussy Riot divulgaram uma carta aberta em que se distanciavam das acções de Aliokhina e Tolokonnikova e pediam à imprensa para parar de as descrever como membros da banda.