Herdeiras de Saramago assinaram contrato de seis anos com a Porto Editora

Herdeiras do Nobel chegaram a acordo com o grupo editorial. Obra de Saramago estará ligada à empresa pelo menos nos próximos seis anos.

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O escritor José Saramago Pedro Cunha

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As herdeiras de José Saramago e a Porto Editora (PE) firmaram esta quarta-feira um contrato de seis anos para a edição e promoção da obra literária do autor de Memorial do Convento e Ensaio sobre a Cegueira.

 


Para além da edição em papel e e-book dos livros do Nobel da Literatura de 1998 em Portugal e nos países de língua oficial portuguesa, o texto do acordo — segundo o comunicado divulgado pela PE — contempla também "o compromisso de definir estratégias conjuntas de divulgação da obra do escritor em todo o mundo, com especial atenção à comunidade lusófona".

 


"É um privilégio acolhermos a vastíssima obra literária de um dos mais importantes escritores portugueses de sempre", diz Manuel Alberto Valente, o editor da PE que ficará responsável pela obra de Saramago, citado pelo referido comunicado. E acrescenta acreditar que "a Porto Editora é a melhor casa para um escritor da dimensão de José Saramago".

 


No comunicado, a PE explica ainda as razões que levaram as herdeiras de José Saramago (1922-2010) — a sua filha Violante Saramago Matos e a viúva, Pilar del Río — a optar pelo grupo editorial portuense como a nova chancela do escritor: o facto de o Prémio Literário José Saramago, lançado em 1999, ser promovido pela Fundação Círculo de Leitores, que integra o grupo PE desde 2010; e "o impulso que o Círculo de Leitores deu à carreira literária de José Saramago com a edição do livro Viagem a Portugal (1981), que veio a permitir que se dedicasse a tempo inteiro à escrita".

 


Reafirmando também estas razões históricas e afectivas, o comunicado que a Fundação José Saramago também emitiu a anunciar o acordo com a PE sublinha igualmente o facto de esta ser "uma empresa totalmente portuguesa, que se dedica ao livro desde a sua fundação".

 


Ao mesmo tempo, a fundação justifica a escolha da PE pelo facto de o legado de José Saramago exigir "uma dedicação permanente e um trabalho contínuo no sentido de o preservar, divulgar, levar ao conhecimento de cada vez mais pessoas — enfim, de o perpetuar".

 


Ao PÚBLICO, o administrador da fundação, José Sucena, explicou que o acordo prevê "a duração de seis anos". E remeteu para a editora o estabelecimento do plano de edições. "Mas há um conjunto de livros que estão livres, cujos contratos já terminaram, e que esperamos que possam ser reeditados pela Porto Editora já a partir do mês de Abril", adiantou José Sucena.

 


Do lado da PE, Manuel Alberto Valente disse que "este contrato é simultaneamente um ponto de chegada e um ponto de partida", esclarecendo que só a partir de agora irão trabalhar na planificação das edições, com base nos títulos já libertos de direitos. O editor portuense admitiu, contudo, como desejável e provável que "os primeiros livros possam vir a ser lançados na Feira do Livro, no final de Maio".

 


Para mais tarde, até final do ano, ficará a publicação do inédito de Saramago, com o título Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas.

 


José Sucena revelou ao PÚBLICO que houve cinco outras casas editoras que contactaram a fundação manifestando interesse em pegar na obra de Saramago, o que demonstra "não apenas o valor da sua obra mas também o carinho e o respeito que o autor concita", como é referido no comunicado da fundação.

 


A obra de Saramago vinha sendo publicada nos últimos anos pelo Grupo Leya, desde que este grupo editorial adquiriu a Caminho, a chancela histórica do Nobel português, cujo primeiro livro aí publicado foi A Noite, em 1979.

 


Há pouco mais de uma semana, a Leya anunciou, em comunicado, o rompimento da relação contratual com as herdeiras de Saramago e, poucos dias depois, a Fundação Saramago admitia a possibilidade de vir ela mesmo a publicar o escritor, mas remetendo para esta semana a decisão definitiva.

 


José Sucena explicou agora que a fundação desistiu de pegar no lançamento editorial do Nobel português "por razões de facturação e de distribuição".

 


Da Leya tinham já saído outros autores, como João Tordo e Miguel Sousa Tavares.