Agravamento da situação no Sudão do Sul: ONU prestes a aprovar reforço de "capacetes azuis"
Ban Ki-moon pediu reforço do actual efectivo num país de onde chegam relatos de assassínios étnicos. Resolução deve ser votada esta terça-feira.
O Conselho de Segurança manteve, durante a noite, contactos para apreciar o pedido de Ban Ki-moon para o envio de reforço do efectivo de sete mil capacetes azuis e 700 polícias da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Minuss.
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O Conselho de Segurança manteve, durante a noite, contactos para apreciar o pedido de Ban Ki-moon para o envio de reforço do efectivo de sete mil capacetes azuis e 700 polícias da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Minuss.
Os Estados Unidos propuseram uma resolução nesse sentido que deverá ser aprovada pelos 15 membros do Conselho esta terça-feira, quando forem 20h em Portugal Continental. “A reacção de todos os membros foi positiva”, disse, citado pela AFP, o embaixador francês Gérard Araud, que é actualmente o presidente rotativo.
A embaixadora norte-americana, Samantha Power, disse que “há um consenso muito alargado e vontade de agir rapidamente”, mas não escondeu que o reforço de meios das Nações Unidas “demorará pelo menos alguns dias”.
A violência eclodiu há uma semana no Sudão do Sul. O Presidente, Salva Kiir, acusou o seu antigo vice, Riek Machar, de tentar um golpe de Estado. Machar nega e diz que o Presidente está a tentar eliminar os rivais.
A raiz do conflito estará no afastamento do vice-Presidente, em Julho. Kiir é dinka, a tribo maioritária, que domina Governo e Exército, e Machar é nuer, a que pertencem apenas 5% dos dez milhões de sudaneses do Sul.
Apesar dos esforços diplomáticos internacionais a violência alastrou. Segundo as Nações Unidas, há combates na maior parte dos dez estados do país.O Governo anunciou que retomou a cidade estratégica de Bor, capital do estado de Jonglei, tomada por opositores na semana passada.
Milhares de refugiados
O número oficial é de 500 mortos, mas as informações disponíveis apontam já para mais de mil. Números divulgados na manhã desta terça-feira pelas Nações Unidas indicam que pelo menos 45 mil civis estão refugiados em bases da organização – 20 mil em bases da capital, Juba; 17 mil em Bor; e sete mil em Bentiu, cidade que estava nas mãos de rebeldes.O número de deslocados foi calculado em 82 mil, mas teme-se que seja bastante superior.
Um repórter da BBC em Juba, a capital, ouviu testemunhas que acusam as forças de segurança de terem morto mais de 200 pessoas, na sua maior parte da etnia nuer. As informações obtidas pela emissora britânica referem “assassínios étnicos em massa”.
Trabalhadores humanitários descreveram cenas sangrentas em Bor. “Vi algumas das coisas mais horríveis que se pode imaginar”, disse Toby Lanzer, coordenador humanitário da ONU. “Pessoas que eram alinhadas e executadas sumariamente. Isto está a ser feito por pessoas que estão simplesmente fora de controlo”, disse Lanzer ao programa Newshour, da BBC. Um responsável do país citado sob anonimato pelo diário britânico The Guardian afirmou que havia cadáveres “espalhados por toda a cidade”.
“É muito comovente ver pessoas que pedem apenas: 'Podem manter-me vivo?'”, contou Lanzer, que esteve em Bor. “Estou muito preocupado que daqui a poucos dias não estejamos a falar de dezenas de milhares, mas sim centenas de milhares”, disse.
O Sudão do Sul conseguiu a independência do Sudão com um referendo em 2011, após um acordo de paz em 2005 que acabou com uma longa e violenta guerra. Os actuais combates ameaçam não só a estabilidade do país, mas de toda a região.
Apesar de um início de vida calmo – ainda que com uma economia estagnada, não obstante os rendimentos do petróleo –, o Sudão do Sul arrisca-se a entrar numa guerra civil.