Troika: cortes salariais estão fora da agenda da reunião com patrões e sindicatos
Parceiros sociais vão confrontar membros da troika com declarações de Lagarde sobre os erros do FMI.
"Não. Não sei onde ouviram isso, vamos discutir assuntos mais abrangentes", disse Subir Lall, à chegada ao encontro com as confederações sindicais e patronais, quando questionado sobre se no encontro seria discutido a flexibilização salarial que o FMI tem defendido para a economia portuguesa e em especial para o sector privado.
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"Não. Não sei onde ouviram isso, vamos discutir assuntos mais abrangentes", disse Subir Lall, à chegada ao encontro com as confederações sindicais e patronais, quando questionado sobre se no encontro seria discutido a flexibilização salarial que o FMI tem defendido para a economia portuguesa e em especial para o sector privado.
Apesar de curta, esta declaração aos jornalistas do chefe da missão da troika (composta por FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) foi inédita, já que habitualmente os representantes da troika não falam à comunicação social à margem deste tipo de encontros.
Além de Subir Lall, do FMI, o encontro conta ainda com a presença de Rasmus Ruffer enquanto representante do Banco Central Europeu e John Berrigan como representante da Comissão Europeia.
Estes responsáveis estão reunidos na sede do Conselho Económico e Social (CES) com os representantes dos sindicatos, neste caso o secretário-geral da CTGP, Arménio Carlos, e a presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, e com os representantes dos patrões, ou seja, com o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, e com o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), Vieira Lopes.
Este encontro insere-se no décimo exame regular ao programa de ajustamento, que começou a 4 de Dezembro, depois de as oitava e nona avaliações ao programa de ajustamento terem terminado no início de Outubro.
Por seu lado, os responsáveis da UGT e CGTP sublinharam as divergências que começam a surgir nos representantes da troika quanto ao plano de resgate de Portugal, adiantando quererem clarificar a admissão de erros feita na terça-feira pelo FMI.
"Há divergências [no discurso da troika]" e "individualmente cada um diz que [as medidas de austeridade] são demais, mas, quando se juntam, todos dizem que ainda precisamos de mais austeridade e salários baixos", lembrou a presidente da UGT à entrada da reunião.
A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, admitiu na terça-feira em reunião do Conselho Económico e Social Europeu, que o plano de resgate aplicado a Portugal tinha erros.
"Esperamos que a troika ouça, de uma vez, o que a directora-geral do FMI disse há poucas horas sobre as medidas de austeridade", afirmou Lucinda Dâmaso, lembrando que a central sindical "sempre defendeu que Portugal não precisa de mais austeridade nem de salários mais baixos".
Também o secretário-geral da CGTP referiu as divergências entre os representantes da troika, sublinhando aquilo que considera "uma hipocrisia e um cinismo", mas admitiu não ter expectativas face à reunião de hoje.
"A senhora Lagarde diz uma coisa e os seus homens de mão fazem outra", disse Arménio Carlos, acrescentando que o FMI, "tal como a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, estão a fazer uma política de destruição quer do tecido da economia quer dos direitos mais elementares dos cidadãos portugueses".
Também as confederações patronais, que chegaram à reunião sem expectativas depois de nove avaliações em que as suas propostas não foram ouvidas, disseram que aproveitarão para recordar as palavras da directora do FMI .
"As afirmações de Christine Lagarde [diretora-geral do FMI - Fundo Monetário Internacional] são contraditórias com o que tem sido colocado em cima da mesa pela troika. Queremos saber se os líderes da troika estão de acordo com Lagarde e as consequências que vão tirar", disse o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes.
Também o presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal se referiu às palavras da responsável máxima do FMI, na terça-feira, considerando que "uma coisa é o que se diz e outra o que se faz". "O FMI fala sobre um tema que na prática não faz e as palavras de Lagarde vêm nesse sentido", afirmou António Saraiva.