A desigualdade é uma ameaça para a economia americana, avisa Obama

Presidente dos EUA fez um discurso em que defendeu o aumento do salário mínimo e citou o Papa Francisco.

Fotogaleria

Nos EUA, e em vários outros países desenvolvidos, “há um défice de oportunidade que está a crescer, e essa é uma ameaça maior para o nosso futuro do que o nosso défice orçamental”, afirmou o Presidente norte-americano, num discurso na quarta-feira à noite.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Nos EUA, e em vários outros países desenvolvidos, “há um défice de oportunidade que está a crescer, e essa é uma ameaça maior para o nosso futuro do que o nosso défice orçamental”, afirmou o Presidente norte-americano, num discurso na quarta-feira à noite.

“Desde 1979, quando terminei o liceu, a produtividade da economia americana subiu mais de 90%, mas os rendimentos da família típica aumentaram menos de 8%", afirmou Obama, que apresentou estatísticas para fundamentar a sua argumentação. "No passado, o salário do director de uma grande empresa era 20 ou 30 vezes o de um trabalhador médio. Hoje é 273 vezes mais.”

É preciso inverter aquilo a que se chama a tendência “perigosa de uma crescente desigualdade e de falta de mobilidade social, que pôs em causa o princípio básico da classe média americana – se trabalhar no duro, pode subir na vida. Uma criança que nasça numa família nos 20% com menos rendimentos, tem menos de uma hipótese em 20 de chegar ao topo da escala social. Tem dez vezes maiores probabilidades de permanecer onde está”, explicou Obama.

Ajudar a mudar esta situação é a tarefa para o seu final de mandato: “Acredito que este é o desafio definidor dos nossos tempos: garantir que a economia funciona para cada trabalhador americano. Foi por isso que me candidatei a Presidente.”

A Casa Branca e o Partido Democrático estão neste momento a pressionar os republicanos para que seja votada a extensão do programa que prolonga o subsídio para os desempregados de longa duração. A partir de 1 de Janeiro, 1,3 milhões de desempregados há mais de 26 semanas podem perder este apoio, que se poderia prolongar até às 73 semanas em estados onde a taxa de desemprego seja superior a 9%, explica o Wall Street Journal. O discurso de Obama surge neste contexto. Um relatório governamental estimou que se a extensão não for renovada, o consumo vai cair e podem-se perder 240 mil empregos em 2014, adianta a Reuters.

Obama recordou as palavras do Papa Francisco – a expressão “esta economia mata”, colhida na primeira exortação apostólica – e afirmou que vai divulgar novas iniciativas em Janeiro, acordadas com grandes empresas, para facilitar o regresso dos desempregados de longa duração ao mercado de trabalho.

Falou também sobre o salário mínimo – que ontem esteve na ribalta, com a greve de 24 horas dos trabalhadores dos restaurantes de fast-food convocada para 100 cidades, para protestar contra os baixos salários. O Presidente renovou o apelo a que o salário mínimo federal, de 7,25 dólares/hora, seja elevado para 10,10 dólares/hora ao longo de dois anos e para que seja indexado à inflação. Esta ideia enfrenta a oposição dos republicanos na Câmara dos Representantes, onde estes têm a maioria. Mas dois terços dos americanos estão a favor do aumento.

“Todos conhecemos os argumentos usados contra a subida do salário mínimo. Alguns dizem que prejudica a quem ganha menos – que as empresas contratam menos trabalhadores. Mas não há provas sólidas de que um salário mínimo mais elevado reduza o número de empregos, e há investigação a provar que aumenta o rendimento dos trabalhadores mais pobres e melhora o crescimento económico a curto prazo”, afirmou Obama.