"Decidi que os EUA devem levar a cabo uma intervenção armada na Síria"

O Presidente norte-americano diz que não é preciso atacar já.

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Obama apelou ao Congresso para que seja aprovada a intervenção militar na Síria Kevin Lamarque/REUTERS

Responsáveis da Administração têm andado numa roda viva de conferências e telefonemas com jornalistas e membros do Congresso, tentando convencer uns e outros de que é necessário uma intervenção na Síria após o ataque com armas químicas da semana passada, que provocou quase 1500 mortos, dos quais mais de 500 eram crianças, segundo números da administração americana.

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Responsáveis da Administração têm andado numa roda viva de conferências e telefonemas com jornalistas e membros do Congresso, tentando convencer uns e outros de que é necessário uma intervenção na Síria após o ataque com armas químicas da semana passada, que provocou quase 1500 mortos, dos quais mais de 500 eram crianças, segundo números da administração americana.

Obama tinha afirmado na sexta-feira que não tinha tomado ainda uma decisão em relação ao que fazer na Síria - mas depois defendeu um ataque "à medida", que "não envolva tropas no terreno", que tenha um fim à vista. Antes, o secretário de Estado John Kerry tinha feito um discurso em que concluía: "A História irá julgar-nos duramente se não fizermos nada.” Não atacar depois de toda esta retórica seria no mínimo estranho.

Se parece então certo que haverá um ataque, quando é que este acontecerá? A televisão síria já mostra imagens de soldados a treinar acompanhadas de músicas bélicas. Responsáveis anunciavam medidas extraordinárias, como manter as padarias abertas 24h para lidar com a “agressão”, assegurando que haveria bens essenciais, como farinha ou medicamentos (o que é irónico: na guerra civil, que matou mais de 100 mil pessoas, tem havido desde o início deste ano mais gente a morrer de fome ou doença provocada pela falta de bens básicos do que pelos ataques em si).

Na BBC, o editor especialista em América do Norte Mark Mardell dizia que tudo tem sido um pouco fora do comum no processo de tomada de decisão dos EUA em relação à Síria. Até o timing de um ataque. Este é o fim-de-semana do Labour Day, um grande feriado nos EUA, que se comemora na primeira segunda-feira de Setembro, dando aos americanos um fim-de-semana prolongado. “Não é a melhor altura para falar de guerra”, comenta Mardell.

O Presidente vai estar na Suécia na segunda-feira. “Não há uma lei a dizer que um Presidente não pode ordenar uma acção militar enquanto está no estrangeiro, mas seria estranho.”

Nos dias seguintes piora: vai estar na cimeira do G20 na Rússia, que se tem oposto a qualquer acção militar – o Presidente russo, Vladimir Putin, ainda hoje disse que a acusação de que Assad usou armas químicas “é um disparate completo” e que seria “muito triste” se os EUA ordenassem unilateralmente um ataque. Fazê-lo, assim, de território russo seria não só estranho “mas altamente provocador”, sublinha Mardell.

Mas depois das palvras especialmente duras de Kerry, e a favor de uma acção do próprio Obama, não será uma semana demasiado tempo de espera para ordenar um ataque? O jornalista conclui: “Tudo são palpites”.