Biógrafos de Ronald Reagan criticam retrato no filme O Mordomo

Filme conta a história do mordomo que trabalhou durante 30 anos na Casa Branca, servindo oito presidentes.

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Filme estreia em Portugal a 5 de Setembro DR

Em declarações ao Hollywood Reporter, Paul Kengor e Kiron Skinner, autores de vários livros sobre o presidente norte-americano, garantem que o filme, que este fim-de-semana ficou em primeiro nas bilheteiras norte-americanas, é impreciso, passando uma imagem de que Ronald Reagan foi indiferente ao sofrimento durante o regime de apartheid na África do Sul.

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Em declarações ao Hollywood Reporter, Paul Kengor e Kiron Skinner, autores de vários livros sobre o presidente norte-americano, garantem que o filme, que este fim-de-semana ficou em primeiro nas bilheteiras norte-americanas, é impreciso, passando uma imagem de que Ronald Reagan foi indiferente ao sofrimento durante o regime de apartheid na África do Sul.

Aqui, Paul Kengor destaca uma cena em que o presidente, interpretado por Alan Rickman, recusa, sem motivo aparente, apoiar uma lei que impõe sanções ao regime de apartheid. O biógrafo critica a falta de contexto, garantindo que Reagan “estava chocado com o apartheid” e queria garantir que com o fim deste regime, este não seria substituído por um regime marxista totalitário aliado em Moscovo e Cuba. “O que faria com que o povo sul-africano seguisse o mesmo caminho da Etiópia, Moçambique, e, sim, Cuba”, explicou Kengor à publicação norte-americana, acrescentando que “se o filme se recusa a lidar com este problema com o equilíbrio necessário, então não o deveria fazer de forma alguma”.

O filme, que tem uma banda sonora assinada pelo músico português Rodrigo Leão, é inspirado na história verídica de Eugene Allen, um afro-americano que durante mais de 30 anos foi mordomo da Casa Branca, trabalhando para presidentes como John F. Kennedy, Richard Nixon, além de Ronald Reagan.

Numa outra cena, também denunciada pelos biógrafos, a mulher do presidente, Nancy Reagan, interpretada por Jane Fonda, convida o mordomo, Cecil Gaine (Forest Whitaker), e a sua mulher (Oprah Winfrey) para um jantar. Paul Kengor e Kiron Skinner referem que o casal de empregados é retratado como se estivesse desconfortável neste jantar, passando a imagem de que os convidados do presidente seriam brancos e os negros apenas poderiam ser seus serventes.

“Este convite gentil e pouco comum era um gesto típico dos Reagan, que ao longo das suas vidas fizeram coisas como esta. Retratar isto como outra coisa qualquer é cruel”, aponta Kengor. “Ao longo dos anos falei com vários empregados da Casa Branca, desde cozinheiros, empregados de limpeza, médicos, serviços secretos. O seu amor por Ronald Reagan é universal”, destaca ainda o biógrafo.

Kiron Skinner vai ainda mais longe e lembra o que Reagan escreveu em 1975 sobre as questões raciais: “Nos meus oito anos [como governador] foram nomeados mais negros para cargos executivos e políticos do que haviam sido nomeados até então por todos governadores da Califórnia juntos”.

O Mordomo marca o regresso de Lee Daniels ao tema das lutas raciais, depois de em 2009 ter realizador Precious. Com estreia marcada em Portugal para o dia 5 de Setembro, o filme foi o mais visto este fim-de-semana nos Estados Unidos, tendo somado nas bilheteiras 18,7 milhões de euros.

Rodrigo Leão estreia-se agora na indústria do cinema americano, depois de ter musicado Lisbon Story (1994), de Wim Wenders, A Gaiola Dourada (2013), de Ruben Alves, e na televisão, a série documental Portugal, Um Retrato Social (2007).