Hannibal Lecter arreganha hoje os dentes na televisão portuguesa

Série sobre o psiquiatra canibal estreia-se hoje no canal AXN, juntando-se a Bates Motel, que estreou domingo no TV Series, mas também aos zombies e à American Horror Story que enchem as TVs

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A série estreou-se há menos de duas semanas nos EUA DR

Hannibal, dr. Lecter para os pacientes, tem agora um toque Bond, de Le Chyffre, para quem guardar memórias de Casino Royale. O psiquiatra homicida Hannibal Lecter que jogava em regime quid pro quo com Clarice Starling está aqui sob a pele de Mads Mikkelsen, o actor mais conhecido pelo papel de vilão Bond no filme de 2006. Esta nova encarnação da personagem de Thomas Harris apura o seu gosto pela culinária – José Andrés, o chef medalhado, é consultor da série – e pelos jogos psicológicos.

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Hannibal, dr. Lecter para os pacientes, tem agora um toque Bond, de Le Chyffre, para quem guardar memórias de Casino Royale. O psiquiatra homicida Hannibal Lecter que jogava em regime quid pro quo com Clarice Starling está aqui sob a pele de Mads Mikkelsen, o actor mais conhecido pelo papel de vilão Bond no filme de 2006. Esta nova encarnação da personagem de Thomas Harris apura o seu gosto pela culinária – José Andrés, o chef medalhado, é consultor da série – e pelos jogos psicológicos.

O novo Hannibal perfila-se como um drama episódico, e não tanto um procedural criminal como os C.S.I., que parte da seguinte base: um criminologista especializado em profiling de criminosos, Will Graham (interpretado por Hugh Dancy), vai trabalhar com o psiquiatra Hannibal Lecter, que é recrutado para o ajudar após uma fase de desencantamento com a profissão de profiler pelo chefe da Unidade de Ciências do Comportamento do FBI, Jack Crawford (Laurence Fishburne). Objectivo: apanhar assassinos, um criminoso a cada semana. Acontece que Lecter é também um homicida e com o que parece ser o nascer do seu famoso apetite canibal – a servir com um bom chianti. O arco de longo curso da série parece ser o trabalho de Lecter sobre Graham, a não confundir com o trabalho de Lecter com Graham.

Com tantos homicidas no pequeno ecrã, há assassinos para todos os gostos e gostos para tudo. As apreciações da crítica norte-americana em relação a Hannibal são maioritariamente positivas, mas se o New York Times acha que Mikkelsen é um “anti-Hopkins” “espectacularmente inexpressivo”, o Huffington Post considera-o “sensacional no papel principal”, “fenomenalmente carismático”. Numa coisa todos concordam: há um toque financeiro visível – os chamados valores de produção, elevados em Hannibal – e um investimento concomitante na direcção artística. Alguma da crítica encontrou melancolia na balada de Hannibal, outra simples sensaboria. Há que provar a receita para saber se a moral está no ponto?

Investimento é também a  palavra-chave no que toca à transmissão desta série – que é um original AXN, transmitido em Portugal no canal homónimo mas nos EUA numa das grandes cadeias, a NBC – em termos internacionais. A aproximação das datas de estreia das séries que se querem de maior sucesso é uma tendência que, timidamente, se tem vindo a tornar mais frequente nos canais de cabo, de que as 72 horas que separam The Walking Dead (Fox) de Portugal são exemplo. Mas se o motivo para tal mudança técnica é sobretudo o medo da pirataria, por falar em Walking Dead, mas também na fantasia sangrenta de Guerra dos Tronos (SyFy), há aqui também outro traço comum. A fome por uma receita que misture violência, o fascínio ancestral por assassinos em série e cultura pop parece ser o que explica que, de repente, também os canais generalistas como a NBC – ela própria em dificuldades, ansiando por um êxito - apostem em séries como Hannibal.

Veja-se o supracitado The Walking Dead, uma never ending story de zombies nascida dos comics de culto de Robert Kirkman produzida pelo AMC, um canal de cabo secundário nos EUA (fora o facto de ter Mad Men e Breaking Bad) e que está a fazer os generalistas americanos olhar por cima do ombro, ganhando cada vez mais audiências – em directo ou em regime de gravação DVR. O apelo aparentemente transversal de uma série que, há dez anos, seria sobretudo para um público de nicho, também pode ir beber ao clima financeiro do Ocidente – cenários pós-apocalípticos precisam-se – ou ainda à longa linhagem de desvio televisivo que vai de Twilight Zone a Twin Peaks, passando pelas mainstream e mais recentes Perdidos, Dexter ou mesmo Fringe, séries da chamada terceira era dourada da TV americana.

E de zombies ao factor Hitchock e ao culto que rodeia Psico até ao regresso em força dos temas 90s e do sibilar de Anthony Hopkins na pele de Hannibal Lecter vão poucos passos, parece. À volta desse caminho ainda podemos ver outros corpos mutilados a deambular: um remake de Carrie, de Brian de Palma, está prestes a chegar aos cinemas; e O Exorcista, o primeiro filme de terror nomeado para o Óscar de Melhor Filme, também está a ser preparado para servir em dez fatias ao público televisivo pelo realizador de Martha Marcy May Marlene, Sean Durkin. Só como nota de rodapé, há ainda American Horror Story na TV e até Brad Pitt está prestes a estrear um filme de zombies (World War Z/ WWZ – Guerra Mundial, que se estreia em Portugal a 20 de Junho).

 

Notícia corrigida às 14h47: correcção de frase no terceiro parágrafo