O Bates Motel reabre esta noite nos Estados Unidos

A adolescência de Norman Bates e a relação com a sua mãe, Norma Bates, numa série que aproveita a actual "onda Hitchcock"

Freddie Highmore como o jovem Norman Bates
Fotogaleria
Freddie Highmore como o jovem Norman Bates
Fotogaleria
Norman (Freddie Highmore) e Norma Bates (Vera Farmiga)
Fotogaleria

Norman Bates. O nome está lá em cima no Olimpo do terror, acompanhado de outros acarinhados assassinos do cinema, nome tão ou mais conhecido do que o de Michael Myers, Hannibal Lecter ou Jason Vorhees, de Psico a Halloween, Silêncio dos Inocentes e Sexta-Feira 13. O Bates Motel reabre esta segunda-feira nos EUA, com reservas para quarto com chuveiro no canal A&E e com gestão dos produtores de Perdidos e livro de visitas do argumentista de Sextas sob Pressão. Bates Motel é uma série-prequela do clássico de 1960, mas passada na actualidade, e aproveita a “onda Hitchcock” dos últimos meses.

De forma simplista, Bates Motel parece estar para Psico como Smallville estava para os filmes Super-Homem. É a adolescência de Norman Bates e a relação com a sua mãe, Norma Bates, que serve de pretexto para regressar ao Bates Motel e à casa onde vive, com iPhones, toques e ambientes assumidos à moda de Twin Peaks e ingredientes de ficção adolescente liceal. Uma família potencial e previsivelmente disfuncional.

Bates Motel, que foi erguido  à imagem do original de Hitchock mas desta vez perto de Vancôver, no Canadá, é obra de um canal normalmente associado à chamada reality programming, mas vem com Vera Farmiga (nomeada em 2010 para o Óscar de Melhor Actriz por Nas Nuvens) e com Freddie Highmore (À Procura da Terra do Nunca, Charlie e a Fábrica de Chocolate). Além desses dois nomes que transitam do cinema, tem o produtor de Perdidos, Carlton Cuse, e a produtora de Sextas sob pressão, Kerry Ehrin. E eles não fogem às comparações, ao peso do conceituado passado e ao risco que é revisitá-lo de forma prospectiva.

“Acho que a série é uma espécie de amálgama, parte Sextas sob pressão, parte Perdidos e parte Twin Peaks”, disse Cuse ao diário USA Today. As entrevistas dos criadores da série estão marcadas pelo original de Hitchcock, que nos últimos meses foi interpretado por Anthony Hopkins no cinema e cuja relação com as suas actrizes e mulheres resultou numa mini-série sobre Tippi Hedren (a protagonista de Os Pássaros), mas também por uma linguagem que os espectadores de Perdidos reconhecem bem. A palavra “mitologia” repete-se na boca de Cuse e a ideia de que já sabemos como a história acaba é desvalorizada, porque o que interessa é o caminho e as histórias que se contam até lá. 

A série já foi mostrada a alguns críticos e o primeiro episódio dos dez já contratualizados foi mostrado no Festival South By Southwest, no Texas, onde Cuse explicou que a premissa de Bates Motel é “quais foram os factores que fizeram de Norman o tipo em que se torna?” E a resposta está prometida para os primeiros dez episódios – “mas a mitologia disso provavelmente não é o que pensam”, acrescenta Cuse. Que volta ao tema “mitologia” para explicar porque optaram por recolocar a personagem de Anthony Perkins no tempo, puxando-a para 2013 “Se o fizéssemos de época”, diz Cuse ao New York Times, o peso do filme seria tão grande que a série não conseguiria “atingir velocidade de fuga. Criámos a nossa própria mitologia e, acho, subvertemos muitas das expectativas”. Há, ainda assim, homenagens ao estilo Hicthcock que vão além do cenário – no terceiro episódio, diz quem já viu os primeiros episódios, há um tributo ao realizador original.

Duas críticas já publicadas sobre os primeiros três episódios da série oscilam entre o elogioso (Hollywood Reporter) e o cauteloso (Variety). Bates Motel é “novo e não uma derivação, chegando com mais mistério do tipo Twin Peaks do que de Psico”, escreve a primeira.  A série, escreve por seu turno a Variety, “faz um erro compreensível, mas problemático, transpondo uma história com a qual a maioria está familiarizada num grão a preto e branco para um cenário contemporâneo. Sim, Norman é solitário e alienado depois da morte súbita do seu pai, mas mesmo ele tem um iPhone para lhe fazer companhia”.

Depois de Psico e Vertigo (considerado o melhor filme de sempre num inquérito da revista britânica Sight & Sound) terem voltado às salas portuguesas e com o ciclo dedicado a Hitchcock na Cinemateca  a mostrar 25 dos seus filmes até 28 de Março, o filão está vivo. Não só pelo reviver da experiência de consumir a sua obra na sala escura, mas porque Hitchcock, o filme sobre o realizador de perfil convexo e pai de muito do bom terror e thriller que depois dele se fez, está também aí, protagonizado por Anthony Hopkins e Helen Mirren. E porque o telefilme The Girl, uma co-produção da BBC e da HBO, se focou na sua estrela torturada, Tippi Hedren (Marnie, Os Pássaros), no final de 2012.

Os riscos, admitem os produtores de Bates Motel, são muitos. Voltar a solo sagrado e a tocar um dos nomes mais infames do temor cinematográfico, o de Norman, e arriscar profanar a obra de outro nome sacrossanto, o de Alfred, é no mínimo temerário. “Mas no fim de contas o tema é tão sedutor. Acho que a certa altura não podíamos não fazer” a série, diz Kerry Ehrin ao New York Times

A série estreia-se em Portugal a 14 de Abril no canal por subscrição TV Series.

     

Sugerir correcção
Comentar