Rei Juan Carlos preocupado com "políticas de ruptura" na Catalunha

Monarca completa 75 anos de idade este sábado. Na primeira entrevista televisiva em 12 anos, manifestou "vontade de seguir em frente e encarar os desafios". Popularidade da monarquia em mínimos históricos.

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Juan Carlos gostaria de ser recordado como "o rei que uniu todos os espanhóis" Jason Reed/Reuters

Juan Carlos voltou a criticar, de modo mais claro do que fizera na noite de Natal, as pulsões independentistas catalãs, embora sem as nomear. Questionado sobre o que mais o preocupa, referiu, para além do desemprego, "as intransigências que envolvem maximalismos e políticas que não nos convêm muito, de ruptura". "Creio que estes momentos não convêm nada a Espanha. Convém unidade e que estejamos unidos em torno de um futuro e uma ideia."

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Juan Carlos voltou a criticar, de modo mais claro do que fizera na noite de Natal, as pulsões independentistas catalãs, embora sem as nomear. Questionado sobre o que mais o preocupa, referiu, para além do desemprego, "as intransigências que envolvem maximalismos e políticas que não nos convêm muito, de ruptura". "Creio que estes momentos não convêm nada a Espanha. Convém unidade e que estejamos unidos em torno de um futuro e uma ideia."

A terceira entrevista de Juan Carlos à televisão em 37 anos de reinado e a primeira nos últimos 12 foi conduzida pelo veterano Jesús Hermida, um jornalista da sua geração. Não tocou em temas polémicos, como as acusações de corrupção ao genro, Iñaki Urdangarin, nem, salvo a Catalunha – e de modo indirecto – em assuntos de actualidade.

Tão pouco foi abordada a queda numa polémica caçada ao elefante, que fez no ano passado no Botswana e que o levou, num gesto sem precedentes, a pedir desculpa aos espanhóis. "Mais do que uma entrevista, é uma conversa entre duas pessoas da mesma geração", informou a Casa Real, segundo o diário El Mundo.

Para o jornal, a entrevista, gravada, teve "um certo tom de fim de reinado", ainda que, logo no início, o monarca tenha enviado a mensagem de que não tenciona abdicar. "Estou em boa forma, com energia, e, sobretudo, com vontade de seguir em frente e encarar os desafios, procurando o maior consenso entre os espanhóis para o fazermos". Mesmo assim, Juan Carlos considera que o filho, Felipe – que completa este mês 45 anos de idade – está preparado para lhe suceder. "De todos os príncipes das Astúrias da história de Espanha, creio que é o mais bem preparado que houve até agora."

Numa espécie de balanço, o monarca manifestou "satisfação" por, com os espanhóis, ter conseguido "esta Espanha moderna, democrática e solidária". O que mais o deixou insatisfeito foi "ter de aguentar tantos anos a violência terrorista". Mas Juan Carlos entende que ainda "falta uma Espanha mais igualitária e mais justa".

"Gostaria que me recordassem como o rei que uniu todos os espanhóis e que com ele conseguiu recuperar a democracia e a monarquia", disse também.

Juan Carlos conseguiu grande popularidade por ter conduzido com êxito a transição para a democracia após a morte do ditador Francisco Franco, em 1975, ano em que subiu ao trono. Mas os espanhóis têm manifestado desagrado por diversos casos que afectaram a imagem da família real.

Uma sondagem publicada na quinta-feira pelo El Mundo indica que 50,1% dos inquiridos fazem um balanço positivo do reinado – "muito bom" para 6,5%, "bom" para 43,5%. Mas, há um ano, os que assim pensavam eram 76,4%. O apoio à monarquia caiu também para um mínimo histórico de 54%, segundo o estudo.