John Kerry é o novo secretário de Estado dos EUA, "cargo para o qual se preparou toda a vida"

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John Kerry tem vasta experiência em política externa americana KAREN BLEIER/AFP

Tentou dialogar com Assad, mas recentemente defendia raides aéreos contra o regime sírio. Agora lidera a diplomacia dos EUA

John Kerry será o próximo secretário de Estado norte-americano, substituindo Hillary Clinton, que não queria continuar. "Kerry preparou-se a vida inteira" para este cargo, disse ontem Obama, com o senador democrata ao seu lado, na Casa Branca.

Após a saída da corrida da embaixadora norte-americana na ONU Susan Rice, violentamente contestada pelos republicanos, sobretudo por ter sido ela que veio dar explicações sobre o atentado ao consulado norte-americano em Bengasi, no qual foi morto o embaixador dos EUA na Líbia, a escolha de Kerry era dada como certa.

O Partido Republicano prometeu aprovar sem problemas a nomeação de John Kerry, 69 anos, senador democrata do Massachussets há muito tempo e candidato derrotado às presidenciais em 2004, frente a George W. Bush. Nessa altura, a campanha republicana dirigiu contra ele uma campanha destruidora, pondo em causa o seu serviço no Vietname, por ter participado no movimento de protesto contra a guerra.

John Kerry é membro do Comité de Relações Externas do Senado há três décadas e tem-no liderado nos últimos anos. Obama encarregou-o de várias missões diplomáticas - foi mesmo um nome possível para secretário de Estado em 2008, antes de Obama ter decidido enterrar o machado de guerra com a sua rival nas primárias democratas.

Clinton tornou-se o membro mais popular da Administração Obama, embora não estivesse disposta a continuar no segundo mandato. A sua saída é, no entanto, ensombrada pelo atentado de Bengasi, a 11 de Setembro deste ano, em que um grupo com ligações à Al-Qaeda matou o embaixador Chris Stevens. Um relatório divulgado esta semana concluiu que a segurança em Bengasi era insuficiente e demitiram-se os quatro responsáveis pela segurança no Departamento de Estado.

Clinton era esperada até ao fim do ano na Comissão de Relações Externas do Senado - presidida por Kerry até agora - para testemunhar sobre o caso.

Susan Rice, que a seguir ao atentado foi enviada para as televisões para falar sobre o ataque, com as primeiras indicações fornecidas pela CIA, que não referiam a autoria de um grupo relacionado com a Al-Qaeda, foi transformada num alvo pelos republicanos. Se a muito desabrida Rice era a primeira escolha de Obama para secretária de Estado, foi obrigada a desistir, porque os republicanos prometeram fazer-lhe uma guerra sem quartel nas audiências de confirmação no cargo.

Uma das primeiras decisões de Kerry será como aumentar a segurança das missões diplomáticas em locais muito perigosos, como a Líbia ou o Iraque, por exemplo, cumprindo a recomendação do relatório sobre Bengasi - que apela a que se invistam mais 2300 milhões por ano durante a próxima década para proteger melhor as embaixadas norte-americanas. Uma das questões sobre as quais terá de decidir será sobre se prosseguirá com a política de deixar a segurança nas mãos de guardas privados - como acontecia na missão diplomática de Bengasi, guardada por uma firma britânica e uma milícia líbia - ou investir num corpo expedicionário diplomático, algo que Kerry defendeu no passado, recordava o blogue Danger Room da revista Wired.

Mas os desafios com que este veterano da política externa norte-americana conta na pasta que lhe é transmitida por Hillary Clinton são múltiplos: as Primaveras Árabes, a disputa por causa do nuclear do Irão com o Ocidente (e em particular com Israel), e também a insistência da Coreia do Norte em desenvolver armas nucleares, além da difícil tarefa de pôr fim à guerra no Afeganistão, mas cumprir a promessa de manter o compromisso com o desenvolvimento naquele longínquo país - tudo isto num período em que se impõem a austeridade e os cortes orçamentais.

Síria e clima prioritários

Em todo este cenário, destaca-se, pela premência, a questão síria. A certa altura, Kerry liderou uma iniciativa de diálogo com o Presidente Bashar Al-Assad para tentar convencê-lo a acabar com a repressão dos protestos. Mas, sublinha a CNN, também fez apelos a que se armasse a oposição e a que a NATO fizesse ataques aéreos sobre as forças de Assad - algo a que a Administração Obama tem resistido.

A nomeação de Kerry é vista como um sinal de que Obama pode estar a falar a sério quando prometeu dar novo fôlego à questão das alterações climáticas, que no primeiro mandato foi subalternatizada. Ele interessa-se bastante pelo clima e pela energia e, segundo a CNN, estas são áreas a que consagraria uma atenção especial. A sua mulher, Teresa Heinz Kerry, tem usado a sua fortuna para apoiar vários grupos de acção ambiental.

"Ao virarmos a página numa década de guerra, Kerry compreende que temos de dominar todos os elementos do poder americano para garantir que funcionam em conjunto", disse Obama, com o novo responsável pela diplomacia americana ao seu lado. "John conquistou o respeito e a confiança dos líderes de todo o mundo. Não vai precisar de muita formação."

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