Gaia quer recuperar estufa neogótica da Quinta da Lavandeira

Foto
Estrutura de ferro da estufa foi sendo alvo de roubos e a sua reabilitação pode custar 250 mil euros PEDRO GRANADEIRO/NFACTOS

Exemplar importante da arquitectura do ferro na região, estufa está muito degradada. Obra avança se houver fundos europeus

Luís Filipe Menezes já começou a sua pré-campanha de candidatura à Câmara do Porto. Mas nem por isso o autarca cessa de lançar projectos em Gaia, de onde sairá no próximo ano. Mesmo que a decisão sobre a concretização dos mesmos tenha de ficar a cargo do seu sucessor. É o caso da reabilitação da estufa e jardim romântico da Quinta da Lavandeira, um projecto da empresa municipal Águas e Parque Biológico de Gaia que depende de uma candidatura ao quadro comunitário 2014-2020, mas que foi ontem já apresentado por Menezes.

É mais um projecto com o cunho de Nuno Oliveira, o ambientalista que, feito gestor dos espaços verdes de Gaia, revolucionou, com o apoio político e o investimento dos executivos de Menezes, o panorama dos parques e jardins do concelho. No Parque da Lavandeira, que abriu ao público em 2005, a empresa Parque Biológico de Gaia pretende alargar a sua intervenção, por protocolo já firmado com os proprietários, a uma área ainda privada da Quinta da Condessa. Trata-se de uma zona que inclui um jardim romântico degradado, com um lago e uma estufa imponente, marca degradada - muito degradada mesmo - da arquitectura do ferro que, não muito longe daquela encosta do Douro, tem dois expoentes bem destacados: as pontes de Luís I e a desactivada ponte ferroviária Dona Maria Pia.

Num cálculo muito preliminar, a equipa de Nuno Oliveira estima que recuperar a estrutura metálica da estufa neogótica, que na origem tinha 38 toneladas de ferro, possa custar 250 mil euros. Menezes explicou ontem de manhã, numa sessão no bar do parque - outro edifício já reabilitado - que o emaranhado de ferros foi sendo alvo de vandalismo e roubos ao longo dos anos, o que encarece o trabalho de a pôr como era. O que não será fácil, já que estamos a falar de um corpo principal de 24 metros de frente, com 12 metros de profundidade e outros tantos de altura, na zona central.

"A porta do centro é ampla (3,3 metros de largo), elegante, bem proporcionada, e as laterais condizem com o resto do edifício. Os rendilhados da cobertura são todos de ferro e de uma leveza extraordinária, que mais parecem recortes feitos em papel transparente", escrevia um impressionado Duarte Oliveira Júnior na edição de 8 de Agosto de 1883 de O Comércio do Porto.

Mandada construir em 1881 pelo Conde Silva Monteiro - figura ligada à Associação Comercial e à Câmara do Porto, e ao arranque das obras do Porto de Leixões e da Linha da Póvoa de Varzim, por exemplo - a estufa está classificada como imóvel de interesse municipal. A mesma classificação abrange os jardins adjacentes, ao estilo romântico, com algumas plantas raras, como uma variedade de camélia julgada extinta. Reabilitar estes espaços anexos e o lago, numa área total de 20 mil metros quadrados, implicará um custo de 140 mil euros, o que eleva para 390 mil o preço estimado para toda a intervenção. Muito dinheiro, admitiu Menezes, que assume que só com o apoio de fundos comunitários é que a obra avançará.

Em troca da colaboração do Parque Biológico de Gaia, os actuais proprietários do espaço - contíguo à área municipal da antiga Quinta da Lavandeira - prometem abri-lo ao público. Alargando assim de 14 para 16 hectares a área disponível deste parque que, por estas alturas, exibe cores outonais, convidando a longos passeios. Na estufa reabilitada, a Câmara de Gaia admite abrir, por exemplo, um salão de chá, e realizar eventos no seu interior, desde que não perturbem "o sossego" que por aqui se cultiva.

Sugerir correcção