Pedro Filipe Soares, o novo líder da bancada do BE, "não verga a miudezas"

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Dele dizem ter uma óptima preparação técnica e boa visão política NUNO FERREIRA SANTOS

Dizem que não é vaidoso e que tem duas características imprescindíveis na política: instinto e determinação. Mas aos 33 anos ainda está "no início da sua vida" e foi eleito a 6 de Dezembro líder parlamentar do BE

Pedro Filipe Soares recebe de Francisco Louçã o elogio supremo, agora que assume a liderança parlamentar da bancada do BE: "Acho que está melhor preparado e tem melhores condições do que eu tinha há 13 anos." O bloquista, que é deputado desde 2009, eleito pelo círculo de Aveiro, é o mais jovem parlamentar do partido. Mas conquistou o trunfo de ser com ele que o BE conquistou o primeiro deputado daquele distrito da Beira Litoral. Depois de ultrapassados dois anos da era José Sócrates, Pedro Filipe Soares ganhou fôlego já nesta legislatura para a nova tarefa de coordenação da bancada, como membro da comissão de Orçamento e Finanças e da comissão parlamentar de inquérito às Parcerias Público-Privadas.

João Semedo, coordenador do BE, justificou, no dia da eleição por voto secreto pelos oito deputados do partido, a escolha por unanimidade de Pedro Filipe Soares com a "centralidade e densidade" de áreas sensíveis como o orçamento e as contas públicas. "A nossa escolha também teve a ver com isso, para além, naturalmente, da experiência e das qualidades pessoais e políticas do deputados", disse.

Pedro Filipe Soares sucede assim a Luís Fazenda, fundador do BE e rosto máximo da UGT no partido, depois de o cargo de líder parlamentar já ter sido ocupado também por José Manuel Pureza. Francisco Louçã, que saiu da liderança do partido em Novembro, não tem dúvidas de que esta é "simplesmente a melhor escolha" e recusa a ideia de que a opção por Pedro Filipe Soares procure responder às exigências das correntes internas que compõem o partido: PSR, UGT e Política XXI. Louçã defende que a escolha não recaiu nele "por ser da UDP", até porque, diz, o discurso de "delfins" e "sucessores" não faz sentido no interior do colectivo. Mas admite que haverá, dentro de cada corrente, "certamente quem responda que sim" ao que considera ser "uma brincadeira de mau gosto".

"O ponto forte do Pedro Filipe Soares é ser muito trabalhador e muito atento. Tem uma óptima preparação matemática e técnica, que muito o ajudou na Comissão de Orçamento e Finanças, e uma boa visão das questões políticas", diz Louçã. Mas tem outras duas características tidas como essenciais na política: "Instinto e determinação." Mariana Mortágua, que assessorou de perto Pedro Filipe Soares na comissão de Orçamento e Finanças, elogia-lhe a "tranquilidade, independentemente da pressão do momento", que consegue aliar a outra característica importante, "a ponderação".

A formação académica pode ajudar a justificar os adjectivos apontados pelos seus pares. O deputado é licenciado em Matemática Aplicada à Tecnologia e tem no currículo a frequência do Mestrado em Detecção Remota. Caso único no Parlamento. Antes de chegar à Assembleia da República, Soares foi, entre 2007 e 2009, coordenador da concelhia do Bloco em Santa Maria da Feira e desde 2007 é membro da Mesa Nacional - órgão máximo do partido entre congressos. Coordena também a distrital do Bloco em Aveiro desde 2010. Mariana Mortágua destaca ainda a sua capacidade de trabalho e o conhecimento dos meandros do regimento parlamentar para assegurar que ele dará um bom líder da bancada: "Foi capaz de provar que é uma pessoa séria, competente, solidária e honesta. Tem um enorme conhecimento das formalidades e funcionamento do Parlamento." Do ponto de vista mais pessoal, reconhece-lhe também "um óptimo gosto musical, muito actual e talvez inesperado".

Inesperado pode ser também o cenário político e económico no próximo ano. Se Louçã considera que Pedro Filipe Soares, que foi candidato pelo partido pela primeira vez com 22 anos, em 2001, nas listas autárquicas em Castelo de Paiva, "está melhor preparado e tem melhores condições" do que o ex-coordenador quando chegou ao Parlamento em 1999, acende contudo o sinal amarelo: "Mas vai estar no centro do fogo, num ano de política duro, o ano dois da troika." Cecília Honório, deputada eleita, também por unanimidade, vice-presidente da bancada bloquista, recorda os ecos do activismo de Pedro Filipe Soares em Aveiro, mas foi na campanha legislativa de 2009, quando fizeram vários comícios de Verão - o que, diz, "não é nada fácil" - que o depois deputado ganhou "uma fã". "O Pedro estava à vontade, é um bom orador na rua, uma excelente companhia na espera que a praça enchesse", afirma Cecília Honório.

Reconhecendo uma admiração "pessoal", além de política, a deputada considera-o "consistente, calmo, perseverante" e com "imenso sentido de humor, capacidade de ouvir os outros" sem laivos de vaidade. Mas "não verga às miudezas", diz. É essa qualidade de "saber ouvir" que Mariana Mortágua também traz para a reflexão acerca de Pedro Filipe Soares, ao afirmar que "é um homem intelectualmente muito honesto, sempre disposto a discutir as suas ideias e a aceitar opiniões diferentes". Conta Mariana: "Várias vezes chegava ao gabinete e a conversa começava por "estive a pensar em... Qual é a tua opinião sobre o assunto?". Acho que tem um interesse genuíno em ouvir e aprender."

Segura, à semelhança de Louçã, de que Soares fará muito bem "este caminho", Cecília Honório classifica-o como "um dos melhores quadros desta nova geração". E é no futuro que Louçã também lhe adivinha os maiores desafios, aqueles que o irão pôr à prova: "Ele está no início da sua vida, tem pouco mais de dez anos de vida política. Será nos testes difíceis que se conhecerão as melhores qualidades e defeitos, como acontece com todas as pessoas."

A capacidade de ouvir, reconhecida por Cecília Honório e Mariana Mortágua, é uma mais-valia apontada também por Louçã, que recorda que foi "por insistência do Pedro" que a escola de Verão do BE - Socialismo 2012 - teve como orador convidado um outro Pedro, o deputado do PS Pedro Nuno Santos. Num momento em que o BE assume como "prioridade das prioridades" juntar forças para a formação de um governo de esquerda, Louçã reconhece que "é um bom sinal que esses dois Pedros saibam conversar".

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