Arquivo pessoal de Tarkovsky comprado pela Rússia por 1,8 milhões de euros

O realizador Lars von Trier também tentou comprar o lote, que acabou por ser arrematado, em 18 minutos de licitações, por um valor 15 vezes acima do estimado.

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Documentos abrem nova porta para o estudo da vida e obra do realizador russo DR

Durante 18 minutos (tempo que durou o leilão do lote), os representantes da câmara de Ivanovo lutaram pelos documentos daquele que é considerado o cineasta russo mais influente desde Eisenstein. Em comunicado, os mesmos representantes autárquicos explicaram que o objectivo é preservar todo o material na terra natal do realizador - que será agora exposto ao público na casa-museu de Tarkovsky.

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Durante 18 minutos (tempo que durou o leilão do lote), os representantes da câmara de Ivanovo lutaram pelos documentos daquele que é considerado o cineasta russo mais influente desde Eisenstein. Em comunicado, os mesmos representantes autárquicos explicaram que o objectivo é preservar todo o material na terra natal do realizador - que será agora exposto ao público na casa-museu de Tarkovsky.

O facto de esta ter sido a primeira vez que documentos de tal importância relacionados com Andrei Tarkovsky apareceram em leilão pode explicar o grande interesse que fez disparar o preço do lote. A agência noticiosa espanhola Efe escreve que além da Câmara de Ivanovo, também o realizador dinamarquês Lars von Trier, a par de um licitador anónimo, mostrou interesse em adquirir a colecção.

Entre os documentos, datados de 1967 a 1986, destaca-se um rascunho de uma carta que Tarkovsky escreveu ao então Presidente soviético Leonid Brezhnev, pedindo que reavaliasse a decisão de banir os seus filmes na União Soviética, decisão que ditou o afastamento do realizador do seu país. Foi em 1982 que Andrei Tarkovsky rumou a Itália, onde filmou Nostalgia, e não mais voltou à sua terra devido à proibição da exibição dos seus filmes.

Na carta em questão, Tarkovsky questiona Brezhnev sobre o porquê de ter banido Andrei Rubliov (1969), o filme baseado na vida do pintor russo e que serviu de pretexto a Tarkovsky para uma viagem visual e reflexiva sobre a história e a arte. "Nos últimos três anos e meio, o meu filme tem sido afastado dos ecrãs. Andrei Rubliov não foi nem nunca poderia ter sido usado para qualquer tipo de propaganda anti-soviética", lê-se no excerto da carta divulgado pela leiloeira, na qual o realizador lembra o Presidente de que o cinema é o seu sustento. "Se não posso ter qualquer trabalho, não posso ganhar a vida, apesar de ter uma mulher e uma criança", escreveu Tarkovsky.  

Na colecção agora vendida estão ainda os diários de rodagem do realizador de Solaris, de O Espelho e de Stalker, nos quais se podem ler as ideias sobre cada plano e cada cena, da posição da câmara à forma como os actores deviam responder. Existe ainda uma troca de correspondência com o crítico russo Evgeniy Danilovich Surkov, quatro álbuns fotográficos e dezenas de cassetes com entrevistas, algumas inéditas, ao cineasta.