O "delírio" dos Archigram continua actual 50 anos depois

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Cidades que circulam pelo espaço e edifícios-balão: as utopias arquitectónicas dos Archigram fotos: dr

A Capital da Cultura Guimarães 2012 recebe a partir de hoje, no Centro Cultural Vila Flor, uma exposição antológica de uma das assinaturas mais marcantes da arquitectura experimental

Eles propuseram uma cidade que andava e construções que pareciam balões. A década de 1960 mal tinha começado quando os britânicos Archigram começaram a mostrar ao mundo as suas propostas de arquitectura experimental: novas cidades utópicas. Há 50 anos isto "parecia um delírio", diz Pedro Jordão, curador da exposição retrospectiva da actividade do colectivo, que hoje inaugura em Guimarães.

Os Archigram mantiveram-se activos entre 1961 e 1974 e são os arquivos das suas propostas experimentais, que foram publicando ao longo desse tempo, que Guimarães acolherá. A exposição "não tem só um lado de passado", sublinha Jordão, porque "estas propostas valem para o presente e também para o futuro". Questões como a mobilidade ou o modo como a sociedade da informação cria novos modos de habitar estavam presentes no trabalho destes arquitectos britânicos, bem como as questões que então colocavam relativas à relação entre as cidades e as pessoas que as habitam.

A organização da exposição tem a intenção de atrair mais do que o público da arquitectura. A forma como a mostra está organizada também se presta a isso, explorando a identidade visual forte dos trabalhos dos Archigram e as múltiplas formas de expressão que então usaram, como colagens, ilustração e media experimentais. O curador explica que a ideia foi "sabotar a noção que as pessoas têm de uma exposição de arquitectura".

Os arquivos dos Archigram foram reunidos numa exposição pela primeira vez em 1994 e, desde então, têm andado em digressão pelo mundo. Esta é a primeira vez que podem ser vistos em Portugal, numa iniciativa da Guimarães 2012. Mas, apesar de partir do mesmo espólio, a versão que é possível visitar a partir de hoje foi pensada de raiz para o local, com uma montagem que tem em conta o espaço em que será apresentada, a galeria do Centro Cultural Vila Flor. Além disso, a exposição portuguesa tem uma quantidade de espólio considerada "impressionante", que vai para além das propostas essenciais do colectivo britânico.

A retrospectiva dos Archigram pode ser visitada até 9 de Dezembro. E ver uma exposição de arquitectura experimental num palácio do século XVII e numa cidade que é mais conhecida pela preservação das suas construções históricas do que por novas propostas arquitectónicas pode parecer estranho.

Do ponto de vista formal e visual, os trabalhos dos Archigram estabelecem um ruptura com praticamente tudo o que é possível ver em qualquer cidade. Mas a sua influência radica sobretudo nos conteúdos e nas possibilidades das propostas. Nesse sentido "relaciona-se com qualquer cidade e qualquer ambiente urbano", justifica Pedro Jordão. Mas, para o curador da exposição, a associação entre a arquitectura experimental e Guimarães pode revelar-se "muito adequada", especialmente pelas "possibilidades de discussão que um território mais consolidado e formalmente conservador pode oferecer".

Conferência e workshop

Esse debate não vai ser feito apenas através da exposição, à qual a Capital Europeia da Cultura (CEC) junta o programa paralelo Sob o signo dos Archigram, que inclui uma conferência - marcada para o próximo mês e que contará com a presença dos membros do colectivo britânico que ainda estão vivos - e um workshop, que começa no dia 27, fruto de uma colaboração com a Architectural Association Visiting School.

A mostra antológica dos Archigram é uma das exposições centrais do último ciclo de programação de arte e arquitectura da Guimarães 2012, que culminará, dentro de uma semana, com a inauguração de Terzo Paradiso, uma encomenda da Capital da Cultura ao artista plástico italiano Michelangelo Pistoletto. Hoje, inaugura também no Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura a mostra Made In, que reúne trabalhos apresentados a um concurso internacional de ideias para obras de arte pública lançado pela CEC.

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