Ryoji Ikeda arrasou e os Mouse on Mars desiludiram

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Ben Frost alternou entre ataques industriais e momentos ternos DR

Festival Semibreve, que terminou no sábado, levou ao Minho a elite da música electrónica de vanguarda

O Festival Semibreve, que terminou no sábado no Theatro Circo, em Braga, com uma sala quase cheia, não se destina a um público mainstream. Mesmo alguns amantes da electrónica mais popular (house ou tecno, por exemplo) estranhariam concertos como o de Vladislav Delay: drones, glitches e loops industriais estilhaçados, raramente enquadrados por uma base rítmica. No entanto, registaram-se cerca de 1500 entradas ao longo das três noites deste evento que celebra a electrónica de vanguarda, um número semelhante ao da primeira edição.

"O balanço é muito positivo, pois situamo-nos num nicho. Penso que conseguimos alargar horizontes e mostrar este tipo de música a um público maior, até porque, num contexto de festival, ganhamos uma maior capacidade de comunicação", afirmou Luís Fernandes, um dos quatro organizadores do certame, que contou com o apoio das Capitais Europeias da Juventude (Braga) e da Cultura (Guimarães).

O festival alargou o seu âmbito às artes digitais, tendo estado patentes no Theatro Circo quatro instalações. A componente visual foi ainda determinante em grande parte dos espectáculos. Nesse capítulo, o espectáculo mais pobre foi o da banda porventura mais aguardada do certame, os Mouse on Mars, na sexta-feira. A projecção, visível numa pequena tela e nos laptops do duo, era pensada para um contexto de clube e pouco impactante. Em termos sonoros, a actuação também desiludiu: faltaram batidas memoráveis a um set que, nos piores momentos, evocou um chill out inócuo.

No mesmo dia, foram bem mais interessantes as actuações de Emptyset - linhas de baixo gordas e microritmos hipnotizantes que faziam pulsar as imagens abstractas de Joanie Lemercier - e Roly Porter, que usou samples orquestrais que criaram um tom dramático, sublinhado pelas imagens em tempo real de Flicker, que ampliou e manipulou objectos como esferovite. No vimaranense Centro Cultural Vila Flor, na véspera, para além de Delay destacou-se o projecto Pole, que associou a linguagem glitch (a exploração de "erros" e distorções sonoras) a teclados etéreos ou ritmos reminiscentes do trip-hop ou tribais.

A ópera de Ikeda

Porém, a melhor actuação foi de Ryoji Ikeda, que construiu uma verdadeira opera electrónica. Brincando com frequências muito graves ou agudas e com a capacidade auditiva da plateia, mostrou porque pode ser considerado o rei do glitch e apresentou uma componente visual quase exclusivamente a preto e branco, que acompanhava o andamento da música. Após 45 minutos, fechou o laptop e saiu, sem olhar sequer o público. Most People Have Been Trained to be Bored, projecto do baterista português Gustavo Costa, e Ben Frost - que usou guitarra e piano para alternar ataques industriais, que fizeram abanar literalmente a sala, com momentos ternos - ficaram longe de tal impacto.

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