Pela dignidade das comunidades ciganas na Europa: Orgulho Cigano!

O cansaço e a desesperança podiam ter acabado por vencer-nos. As perseguições contra os ciganos, roma, sinti e manuches não duram há centenas de anos? Os estereótipos que se abatem sobre eles não atravessaram vários séculos, países e regimes políticos? Não seria ilusório pensar em "normalizar" uma situação que pode parecer não ter saída?

Com efeito, e assumindo muitas formas, a violência contra os ciganos na Europa parece não ter fim, e as dificuldades para que sejam, por fim, plenamente integrados na sociedade europeia afiguram-se insuperáveis.

Na Europa central e nos Balcãs, por exemplo, uma certa lógica leva ao seu afastamento do espaço público, não raro pela erradicação física até. Assim, são relegados para os subúrbios dos principais aglomerados populacionais e, em numerosas vilas e cidades, acumulados em bairros cercados por muros, muitas vezes sem água corrente, sem electricidade e sem serviços públicos. É o que se passa, nomeadamente, na República Checa, em Ostrava; na Eslováquia, em Michalovce, Kosice, Preslov e Svinia; na Roménia, em Tarlungeni e Baia Mare, de onde os ciganos foram recentemente expulsos e instalados numa fábrica de produtos químicos desactivada, estando expostos a um nível de toxicidade elevado. Aliás, são já inúmeros os guetos urbanos na Bulgária, onde em 2011 o partido de extrema-direita Ataka organizou manifestações em cerca de 20 cidades, com palavras de ordens como "Morte aos ciganos" ou "Façam os ciganos em sabão". Na Hungria, as milícias paramilitares do partido Jobbik aterrorizam os ciganos, obrigando-os frequentemente a fugir das aldeias onde vivem, como aconteceu em Giöngyöspata, e desencadeiam regularmente actos de uma violência racista extrema, enquanto o Governo cria, a coberto da luta contra a fraude nos benefícios sociais, verdadeiros campos de trabalho abertos para os ciganos.

Além disso, as expulsões foram retomadas em França, apesar da mudança do partido no poder, e prosseguem na Alemanha, Suécia e Itália.

Por fim, a discriminação racial quotidiana nos domínios da saúde, do trabalho, do lazer e da educação persiste no Kosovo, em Portugal, na Sérvia, na Croácia e na Polónia.

Embora pudesse ter-nos mergulhado no desespero, pelo contrário, é a um empenhamento ainda maior na luta pela dignidade e pela igualdade de direitos que esta situação nos leva.

É por isso que, no domingo dia 7 de Outubro, marcharemos nos nossos países, à frente da sociedade civil europeia, unida em todo o continente, da Noruega à Sérvia e de Portugal à Polónia, passando pela Itália, Roménia, Hungria e Bulgária, para clamarmos juntos, com serenidade mas com firmeza, "Orgulho Cigano". Juntos desencadearemos uma mobilização que assumirá a forma de reuniões políticas ou eventos culturais.

Não obstante o que possam dizer os velhos do Restelo e os vencidos pelo cansaço, a nossa esperança de ver plenamente reconhecida a dignidade de indivíduos que provêm de uma das mais antigas comunidades europeias não é vã.

De facto, ao nível institucional, a União Europeia conseguiu alguns progressos: pela primeira vez, e graças à ajuda da Comissão e de alguns eurodeputados há muito empenhados nesta questão, todos os Estados-membros tiveram de elaborar e apresentar à Comissão, no final de 2011, uma Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas.

No entanto, como podem algumas destas estratégias ter real impacto se não forem dotadas de um orçamento ou de uma agenda? Como podemos não reconhecer que se trata de uma forma de contornar o problema e assim perpetuar a violência e a discriminação? Acima de tudo, surge hoje na Europa uma elite cigana cujo objectivo é simples e claro: a plena igualdade de direitos e obrigações. Esta elite, composta por homens e mulheres políticos, intelectuais, artistas e activistas, não está isolada, mas fortemente enraizada nas comunidades ciganas de todo o continente, fazendo parte da sociedade civil europeia.

O Orgulho Cigano é, portanto, uma mobilização da auto-emancipação e de apoio à auto-emancipação, levada a cabo pela sociedade civil, independentemente das origens dos indivíduos e das organizações envolvidas, pois o universalismo é a nossa inspiração, e a plena inserção na sociedade a nossa reivindicação comum.

A plena inserção não significa uma aculturação ou a quebra do elo de transmissão de identidades e tradições que, na sua diversidade, fazem parte do património europeu. Ela significa, em toda a parte, o fim dos assassínios racistas, o desmantelamento dos guetos, a revogação das leis discriminatórias e das disposições "excepcionais" que, na prática, visam os ciganos - como as relativas aos acordos de Schengen, que limitam a liberdade de circulação na Europa -, e o fim da estigmatização dos ciganos com objectivos políticos. Significa uma luta determinada pela desconstrução dos estereótipos, contra a discriminação no emprego e na habitação e a segregação na educação. Significa, finalmente, o reconhecimento das responsabilidades individuais e nacionais nas perseguições aos ciganos, designadamente por parte dos países europeus aliados da Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.

Para realizar enfim a plena inserção de todos os indivíduos na sociedade europeia, para fazer respeitar a dignidade de todos e a igualdade de direitos em todo o continente, enviemos um sinal claro no próximo dia 7 de Outubro e marchemos juntos, em toda a Europa, pelo Orgulho Cigano!

Benjamin Abtan, Presidente, European Grassroots Antiracist Movement (EGAM) E, por país: Albânia: Aldo Merkoci, presidente, Mjaft!; Adriatik Hasantari, presidente, Roma Active; Alemanha: Serdar Yazar, porta-voz, Turkish Union in Berlin-Brandenburg (TBB);Áustria: Claudia Schäfer, CEO, ZARA;Alexander Pollak,presidente, SOS Mitmensch;Andrea Härle, directora executiva, Romano Centro;Bósnia: Alma Masic, directora, Youth Initiative for Human Rights - Bósnia; Bulgária: Krassimir Kanev, presidente, Comité Helsinki;Deyan Kolev,presidente, Centro Rom Amalipe para o Diálogo Interétnico e a Tolerância;Croácia: Mario Mazic, director, Youth Initiative for Human Rights - Croácia;Dinamarca: Anne Nielsen, presidente, SOS mod racism;Ferdi Sabani, presidente, Roma Forzning i Danmark;Eslováquia: Irena Bihariova, presidente, Ludia proti rasizmu; Finlândia: Janette Grönfors, coordenadora, Rasmus, rede contra o racismo; membro-fundador, Nevo Roma;França: Cindy Léoni,presidente, SOS Racisme;Alain Daumas, presidente, Union Française des Associations Tsiganes (UFAT);Grécia: Ahmed Moawia,coordenador, Fórum Grego para os Migrantes; Hungria: Janos Farkas, presidente do Governo da minoria roma de Giöngyöspata;Erika Muhi, directora, NEKI; Itália: Angela Scalzo, presidente, SOS Razzismo;Olga Bala,presidente, Partita Romilor; Kosovo: Raba Gjoshi,directora, Youth Initiative for Human Rights - Kosovo;Osman Osmani, director, Initiative 6;Letónia: Sigita Zankovska-Odina,investigadora, Latvian Centre for Human Rights; Moldávia: Nicolae Radita, presidente, Roma National Centre; Montenegro: Boris Raonic, presidente, Civic Alliance;Teuta Nuraj,presidente, Nacionalni Savjet Roma i Egipcana; Noruega: Kari Helene Partapuoli,directora, Antirasistisk Senter; Polónia: Kasia Kubin,directora, Foundation Forum for Social Diversity;Paula Sawicka,presidente, Open Republic Association; Roman Kwiatkowski, presidente, Roma People Association in Poland; Portugal: Bruno Gonçalves,vice-presidente, Centro de Estudos Ciganos; República Checa: Anna Sabatová,presidente, Comité Helsinki;Jarmila Balázová, presidente, Romea; Roménia: Marian Mandache,director executivo, Romani Criss; Rússia: Svetlana Gannushkina, presidente, Rede de Direitos dos Migrantes Memorial; Sérvia: Maja Micic, directora, Youth Initiative for Human Rights - Sérvia;Jovana Vukovic,coordenadora, Regional Centre for Minorities; Suécia: Mariam Osman Sherifay, presidente, Centrum mot Rasism; Turquia: Selcuk Karadeniz, presidente, Roma Youth Association;Cengiz Algan, porta-voz, Durde!; Ucrânia: Zola Kundur, presidente, Fundo Chiricli para as Mulheres Roma

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