Hospital de Santarém não consegue contratar mais médicos internos

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Onze médicos internistas dizem que faltam mais 35 profissionais MARTIM RAMOS

Administração hospitalar justifica a dificuldade em encontrar especialistas nos concursos com "atracção" de Loures e Lisboa

O gabinete do ministro da Saúde informou que a administração do Hospital Distrital de Santarém (HDS) já abriu mais de dez concursos nos últimos seis anos, para contratar especialistas em medicina interna, que ficaram desertos. A unidade tem graves lacunas de pessoal médico e o problema já foi denunciado, em Abril, por 11 médicos internos do hospital e motivou uma pergunta ao Governo do deputado comunista António Filipe.

O Ministério da Saúde sustenta, contudo, que o HDS está a desenvolver novas tentativas para aumentar o quadro de médicos internistas, solicitando autorização superior para contratar os dois médicos que já estão em fase avançada de especialização nas suas instalações que farão exame em 2012 e tentando contratar os três internos que estão actualmente no quarto ano e que farão exame de saída em 2013.

Em Abril, os 11 médicos internos do quadro referiram que uma unidade com as valências do hospital de Santarém, que serve 191.300 habitantes de sete concelhos ribatejanos, deveria ter 46 médicos especializados em medicina interna e tem menos de um quarto. "Esta degradação coloca em risco o funcionamento, em condições tecnicamente mínimas, da urgência e do internamento. Sem os médicos internistas, o serviço de urgência não funciona e não há apoio médico nas enfermarias", sustenta a carta aberta dos clínicos, frisando que estes especialistas trabalham na urgência, nas enfermarias de medicina interna, nas consultas e nos hospitais de dia e são responsáveis pela formação de outros médicos.

Segundo afirmam, para um hospital com a afluência e a área de abrangência do HDS, deveriam estar colocados, no mínimo, 35 internos e o número ideal seria de 46. Os médicos internistas acreditam que os utentes compreendem estas dificuldades, mas sublinham que é preciso tomar medidas de reforço de meios e que "não se poderão responsabilizar por quaisquer actos ou omissões decorrentes da aludida ausência de condições, particularmente decorrentes da carência de profissionais médicos".

Os responsáveis do HDS, de acordo com a resposta do gabinete do ministro Paulo Macedo, reconhecem razão aos 11 internistas subscritores da carta aberta, admitindo que são eles que asseguram "a maior parte do trabalho e das responsabilidades no internamento de medicina interna". O conselho de administração deste hospital EPE (entidade pública com gestão empresarial) acrescenta que os estudos efectuados consideram que uma equipa de 27 internistas será "adequada" ao seu volume de serviço e garante que sempre tem acompanhado o problema e procurado soluções, que passam pelo aumento do número de médicos e, "ao contrário do desejável", pelo aumento do número de camas.

"Estas duas medidas tinham sentido em conjunto, mas não tendo sido possível admitir médicos, face à inexistência de oferta, avançou-se para a segunda medida, a abertura de camas, com a plena consciência do esforço pedido aos profissionais", defende a administração do HDS, citada pelo gabinete do ministro, frisando que esta é uma "solução temporária", que contribui também para a melhoria das condições de conforto e de atendimentos dos doentes.

Segundo o gabinete do ministro, os responsáveis do HDS consideram que a abertura do Hospital de Loures e a "atracção" dos hospitais de Lisboa têm "inviabilizado" as mais diversas tentativas de contratar mais médicos especialistas em medicina interna. Ao mesmo tempo, a unidade hospitalar tem recorrido a prestações de serviços médicos que totalizaram 1854 horas efectuadas por assistentes na especialidade de medicina interna nos serviços de urgência, nos três primeiros meses de 2012, e de mais 1662 horas de serviço, prestado por "internos da especialidade devidamente habilitados". Tendo ainda em conta que, nos últimos três anos, as 93 camas disponíveis no departamento de medicina ultrapassavam regularmente os 140% de taxa de ocupação entre Dezembro e Abril, obrigando a recorrer a camas do departamento cirúrgico.

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