O Romance de Pessoa e Ofélia

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Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia QueirozEdição de Manuela Parreira da SilvaEditor: Assírio & Alvim367 págs., €18 In Fotobiografia de Fernando Pessoa

As cartas de amor de Fernando Pessoa (1888-1935) e de Ofélia Queiroz (1900-1991) reunidas numa única edição e obedecendo a um critério cronológico estão pela primeira vez editadas em Portugal. O autor de Mensagem escreveu 51 cartas a Ofélia Queiroz, entre 1 de Março e 29 de Novembro de 1920 (naquela que é considerada a primeira fase do namoro) e entre 11 de Setembro de 1929 e 11 de Janeiro de 1930 (a segunda fase). Ofélia escreveu-lhe 129 cartas, a primeira datada de 1919 e a última de Dezembro de 1932. O acervo reúne 185 documentos (são cartas, postais e telegramas).

Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz, além da inclusão de alguns parágrafos "censurados" na primeira edição das cartas de Ofélia, inclui duas cartas inéditas da namorada de Pessoa. A académica Manuela Parreira da Silva achou útil que o leitor comum e os investigadores da obra do poeta tivessem à disposição, num único volume, o conjunto das cartas e as respectivas respostas. Foi isso que propôs à editora Assírio & Alvim, que lançou o livro. As cartas do poeta foram publicadas pela primeira vez em Portugal em 1978, e as cartas de Ofélia tiveram uma edição em 1996. As duas inéditas que estão agora no livro não foram publicadas na altura a pedido da família, que as julgou demasiado íntimas. Foram escritas por Ofélia, a 2 e a 3 de Julho de 1920, e pertencem actualmente ao coleccionador brasileiro Pedro Corrêa do Lago. A sobrinha-neta de Ofélia, com quem a académica manteve uma excelente troca de ideias, achou que, passada mais de uma década, não fazia mais sentido não as dar a conhecer ao público. Numa delas, Ofélia conta ao "querido Nininho" que lhe está a escrever na cama de onde não se pode levantar. E na outra, em resposta à preocupação mostrada por Pessoa quanto à maleita que trazia Ofélia "sempre doente, sempre triste, sempre misteriosa", a namorada tenta explicar que a sua "doença nada tem de mistério", e diz-lhe: "os mistérios faço-os eu por não ser uma coisa muito natural de se dizer, e que no entanto é a coisa mais natural de acontecer."

Numa nota de rodapé, Manuela Parreira da Silva explica que os rodeios de Ofélia a respeito da doença prendem-se com "o pudor e até o tabu em falar de questões relacionadas com o período menstrual". Na correspondência dos dois, entre a primeira fase do namoro e a segunda, há um hiato de 9 anos. Voltam a corresponder-se por causa da fotografia que Fernando lhe envia a seu pedido, tirada em 1929 no estabelecimento de bebidas Abel Pereira da Fonseca, com a dedicatória: "em flagrante delitro". Isabel Coutinho

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