Festa do Pontal já teve um "homem do leme" e um profeta da "verdade"

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A festa do Pontal começou com Sá Carneiro, mas foi durante o consulado de Cavaco Silva que passou a marcar a agenda política Luísa Ferreira/arquivo

"Mesmo aqueles que discordam de nós não têm dúvidas de que o barco tem um rumo e de que há uma pessoa ao leme." Oito anos depois de, no mesmo cenário, ter sido apresentado como novo presidente do partido ao "povo laranja" no seu Algarve, Cavaco Silva reivindica a sua liderança. Então, em tempo de crise europeia, Portugal tem rota e um capitão do barco. O "homem do leme" é de Boliqueime.

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"Mesmo aqueles que discordam de nós não têm dúvidas de que o barco tem um rumo e de que há uma pessoa ao leme." Oito anos depois de, no mesmo cenário, ter sido apresentado como novo presidente do partido ao "povo laranja" no seu Algarve, Cavaco Silva reivindica a sua liderança. Então, em tempo de crise europeia, Portugal tem rota e um capitão do barco. O "homem do leme" é de Boliqueime.

Doze meses depois, aquele discurso parece esquecido. Cavaco abandona a metáfora náutica. Adopta a imagem ciclista. "Portugal integra agora o pelotão da frente com mais 15 países, mas vamos na parte detrás do pelotão", alerta. O aviso caiu em saco roto. A 1 de Outubro de 1995, a vitória nas legislativas do socialista António Guterres põe fim à década do cavaquismo.

As até agora duas intervenções de Passos Coelho foram, igualmente, marcantes. Em 2010, recém-chegado à presidência social-democrata, Passos põe condições para apoiar o Orçamento de 2011, o último da autoria da dupla Sócrates/Teixeira dos Santos: não ao aumento dos impostos, não aos cortes nas deduções fiscais na saúde e educação; sim ao corte da despesa. A revisão constitucional, tema estrela da conquista da liderança partidária e ponta do véu de um novo programa político, é preterida. A festa algarvia marca o arranque para a conquista do poder.

No regresso de um primeiro-ministro do PSD ao palco da festa, o discurso de 2011 é diferente. "Não se espantem que o meu apelo seja hoje dirigido mais aos parceiros sociais do que aos partidos políticos", explica. Passos teme a conflitualidade social porque, como diz, "vamos ingressar no coração, no plano mais duro das tarefas que temos a realizar". Em tempos de troika, pede paciência e espírito de sacrifício. Porque "o que estamos a fazer ficará na história da Europa". Há, também, promessas: como um programa até ao final de mês (Agosto de 2011) para "acabar com institutos públicos, fundações".

Apesar do sabor das leituras a posteriori, a festa algarvia do PSD tem elementos perenes. "Este tipo de iniciativa é produto da relação entre o partido e os seus centros regionais", anota o politólogo António Costa Pinto. "O que aconteceu várias vezes no passado foram desafios a esta dinâmica, com a direcção do partido a subalternizar ou a sobreavaliar", precisa. O que, sublinha, tem a ver com as mudanças de liderança ou na relação com as fundações partidárias.

"Quando Durão Barroso foi líder, quis acabar com a festa do Pontal, inventou uma rentrée na Póvoa de Varzim", recorda Mendes Bota. O deputado algarvio também anotou as duas ausências de Manuela Ferreira Leite. Reivindica que "ressuscitei por três vezes o Pontal" e junta datas: 25 de Agosto de 1985, 17 de Agosto de 1996 e 6 de Agosto de 2005. "Sou responsável pela estabilização da data de 14 de Agosto, porque o feriado de 15 marca a mudança de turno", refere. Um virar de página num peculiar calendário. "Em Agosto, só no Algarve se encontram pessoas de todo o país, é este o carácter específico, é uma espécie de diáspora", descreve o parlamentar, ex-presidente do PSD algarvio.

Mendes Bota prefere os espaços abertos à militância. "Tentaram substituir a festa do Pontal pela Universidade de Verão, onde se reúne a intelligentsia, a intelectualidade, o PSD não pode estar acantonado entre quatro paredes, quando saiu à rua foi mais forte", defende. A "rentrée laranja" é, assim, no palco algarvio. "O país começa a falar da festa do Pontal um mês antes e continua a falar um mês depois", sintetiza.

"Fora das campanhas eleitorais, tem sido crescente a tendência dos dirigentes do PSD ou do PS de falarem em espaços fechados, como ocorre na grande maioria das democracias europeias", constata Costa Pinto. Não só porque o recurso ao espaço fechado é mais prudente. "Há uma visão mediática, que utiliza a comunidade militante, um cenário e protagonistas escolhidos", salienta o politólogo.

Sobre a edição desta noite, António Costa Pinto faz uma antevisão. Em agenda devem estar as eleições autárquicas, a austeridade e a reforma da lei eleitoral. "É de prever que Passos Coelho não fale exclusivamente para a sociedade portuguesa, que também dirija algumas palavras ao seu partido", refere.

Mendes Bota garante a sua presença no Aquashow da Quarteira: "Claro que vou este ano, sou militante, ficaria mal não aparecer, embora não seja esta a minha fórmula, vamos ver o que sai dali."