O Terrantez do Pico e outros vinhos da região

A par da cozinha e da hotelaria, também os vinhos dos Açores têm evoluído de forma notória nos últimos anos. Fruto de investimentos locais e da aplicação das mais modernas técnicas de cultivo e enologia, associadas ao apuramento de castas. Destaque para o projecto de recuperação salvamento do Terrantez do Pico, casta muito antiga e que não existe em qualquer outro lugar do mundo, que estava em vias de extinção já com menos de cem plantas. O desafio foi lançado pelos Serviços de Desenvolvimento Agrário de S. Miguel a António Maçanita, um dos enólogos da nova geração com fortes ligações à região e formador da escola de hotelaria de Ponta Delgada. A partir de campos de plantação criados para o efeito, a casta é já hoje predominante nos vinhos locais, a par do Verdelho e do Arinto, tal como explicou Paulo Machado, presidente Comissão de Viticultura da Região (CVR) dos Açores.

Maçanita acredita nas potencialidades do Terrantez e do seu trabalho de experimentação e apuramento engarrafou já três vinhos de diferentes. E como é o Terrantez do Pico? O enólogo responde que é uma casta com mau feitio na vinha, devido às dificuldades na vinha, mas com muita personalidade no copo. Houve até quem lhe sugerisse semelhanças com o Alvarinho, o que foi visto como um elogio - mas há ainda muito caminho pela frente.

O menu elaborado pelos chefs locais foi especialmente concebido para harmonizar com as três versões deste vinho. Fermentado em inox, exibe a tal personalidade vincada em acidez e textura, a par de um toque salino resultante do cultivo em terras coladas ao mar. Na versão espumantizada, que Maçanita anuncia como a primeira experiência na região, dá maior evidência ao lado mineral, enquanto a completa fermentação em barricas equilibra os tais excessos de personalidade. Falta-lhe ainda alguma pujança, mas o tempo é, por enquanto, de experiências.

Na memória de anteriores provas de vinhos da região, ficara-nos apenas a frescura equilibrada do Frei Gigante, salvo erro de 2009, mas pelo que agora nos foi dado ver, há já um bom lote de produtores que não têm nada de que se envergonhar. Entre os 12 brancos dados a provar pela CVR nota-se um perfil marcado pela mineralidade e discrição nos aromas. Interessante o Cerrado do Mar 2011 e o Terras de Lava 2009 (ambos à base de Verdelho e Fernão Pires), tal como o Ínsua 2011 (Arinto) e Magma 2001, um Verdelho onde se nota já o dedo de Anselmo Mendes. José Augusto Moreira

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