Henri Cartier-Bresson

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1960 - Em Reno, o realizador John Huston (na fotografia) rodava Os Inadaptados e os fotógrafos da agência Magnum mudaram-se para o Nevada. Bresson viu não só a trama do que Arthur Miller tinha escrito mas também o fim do seu casamento com Marilyn Henri Cartier-Bresson/Magnum/AIC

Em Julho de 1960, a agência Magnum transferiu-se para Reno, Nevada, onde se rodava the ultimate movie. Com este cast alojado no Mapes Hotel, Marilyn Monroe, Clark Gable e Montgomery Clift, Os Inadaptados ficaria como exemplar do género "os que estão à beira de morrer saúdam-te" - Gable semanas depois, Marilyn em 1962, Clift em 1966. Henri Cartier-Bresson, Bruce Davidson, Elliot Erwitt, Cornell Capa, Eve Arnold ou Inge Morath foram para Reno. Quando chegou a sua vez, Cartier-Bresson foi convidado para um jantar com a estrela. Ela estava atrasada e o fotógrafo pousou a Leica na cadeira vazia. Quarenta e cinco minutos depois, Marilyn chegou e ficou a olhar para o aparelho. Cartier-Bresson também, mas nenhum dos dois se moveu. Marilyn pediu-lhe que retirasse o objecto. "Não, dê a sua bênção primeiro", reagiu o fotógrafo. Ela terá compreendido com a mesma rapidez: durante um segundo as nádegas de Marilyn abençoaram a Leica de Cartier-Bresson. Mas a máquina viu mais, como uma ficção onde ficam as marcas de um documentário. Arthur Miller, dramaturgo, concebera Roslyn, que acorda da morte um grupo de homens entregues a rituais de masculinidade, como um valentine para a mulher, Marilyn. Mas entre o momento da escrita da história e a rodagem do filme de John Huston, um casamento desintegrava-se e o valentine enchia-se de crueldade. Ao sol, a doçura mostrava-se exausta. O pó do deserto já não escondia a agressividade. Miller desistia de salvar, uma e outra vez, a mulher. O que Bresson captou com o retrato de uma mulher - "o que em França chamamos la femme éternelle", disse ele - foram cenas de uma morte conjugal.

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