Morreu Chavela Vargas, figura mítica da música mexicana

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AFP

Vargas, nascida em 1919 em San Joaquin de Flores, Costa Rica, era uma mulher que desafiava as convenções – vestia-se como um homem para cantar rancheiras (canções tradicionais mexicanas cantadas habitualmente por homens), usava uma pistola, bebia muito e fumava ainda mais.

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Vargas, nascida em 1919 em San Joaquin de Flores, Costa Rica, era uma mulher que desafiava as convenções – vestia-se como um homem para cantar rancheiras (canções tradicionais mexicanas cantadas habitualmente por homens), usava uma pistola, bebia muito e fumava ainda mais.

Depois de uma infância difícil, marcada por uma má relação com os pais, aos 14 anos imigrou para o México onde, recorda a Associated Press, ainda adolescente começou a cantar nas ruas. Só quando já tinha passado os trinta anos é que iniciou a carreira profissional, durante a qual gravou 80 álbuns, tornando-se uma figura de referência na explosão artística mexicana de meados do século XX. Foi amiga dos pintores Frida Kahlo e Diego Rivera e do escritor espanhol Federico Garcia Lorca.

O El País conta que Chavela “aborrecia-se” quando lhe faziam perguntas sobre Frida, por quem terá estado apaixonada, mas gostava de recordar o que vivera com ela e com Rivera: “Convidaram-me para uma festa em casa deles. E fiquei. Convidaram-me a ficar a viver com eles e aprendi todos os segredos da pintura de Frida e Diego. Segredos muito interessantes, que não revelarei nunca. E éramos felizes todos. Vivíamos um dia de cada vez, sem um centavo, por vezes sem ter o que comer, mas mortos de riso”. Em 2002 apareceu no filme Frida, cantando a música La Llorona. A artista só falou abertamente sobre a sua homossexualidade aos 81 anos, quando publicou uma autobiografia intitulada Y si quieres saber de mi passado.

Sobre Chavela, o realizador espanhol Pedro Almodovar disse um dia: “Não acredito que haja neste mundo um palco suficientemente grande para ela”. E homenageou-a, usando as músicas dela em vários dos seus filmes.

No passado dia 12 de Julho, Chavela foi internada de urgência num hospital espanhol, mas acabaria por ter alta e por voltar ao México, onde queria morrer. Ela “era como os toureiros, sempre a despedir-se e sempre a regressar”, escreve o El País.

O médico que a acompanhou disse, citado pela Associated Press, que Chavela se recusou a aceitar medidas médicas que lhe prolongassem a vida. “Queria ter uma morte natural”.

“Nunca tive medo de nada porque nunca magoei ninguém”, dissera em 2011, num concerto de homenagem na Cidade do México.