Rui Madeira lança Beyra, vinhos com altitude

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O criador da Vinhos do Douro Superior tem novo projecto na Vermiosa.

Quando o Douro não tinha os excedentes que tem hoje, a Vermiosa, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, na região vizinha das Beiras, serviu de fonte de abastecimento de uvas e vinho a muitas adegas e produtores durienses. O negócio era e é ilegal, mas a alta produtividade das vinhas daquela freguesia, o baixo preço das uvas e a proximidade geográfica estimulava a "candonga". Hoje, a Vermiosa já não abastece o Douro, mas da aldeia continuam a sair quase todos os dias camiões carregadas de vinho com destino às regiões dos Vinhos Verdes e da Bairrada.

A ligação à Bairrada é histórica. Durante muitos anos, o grosso dos vinhos da Vermiosa foi destinado à elaboração de espumantes bairradinos. A procura por parte de produtores minhotos é mais recente. O que atrai uns e outros é a fantástica acidez daqueles vinhos e a sua contenção alcoólica. O lugar tem algumas semelhanças com o Alentejo: a orografia é suave e campos de cereal com sobreiros no meio convivem com vinhas planas ou pouco inclinadas. No entanto, a maioria dessas vinhas fica situada a mais de 700 metros de altitude, o que explica a frescura dos vinhos que originam. O lugar tem outras coisas boas: variedade de solos (xisto, argila e granito, com filões de quartzo entre eles), vinhas muito velhas (bastantes já centenárias) e castas bem adaptadas (Síria, Fonte Cal e Rabo de Ovelha nos brancos, Tinta Roriz e Rufete nos tintos). Tem também um bom regime pluviométrico e grandes amplitudes térmicas, com dias quentes e noites bastante frias, o que é bom para a maturação dos vinhos e também para a sua elaboração e conservação em adega.

Foram estas condições que levaram Rui Madeira, o criador da VDS-Vinhos do Douro Superior (comercializa marcas como Castelo de Alba e Pedra Escrita) e responsável enológico das adegas de Freixo de Espada à Cinta e de Vila Real, esta a mais bem sucedida cooperativa do Douro), a iniciar um novo projecto na Vermiosa, com a chancela "Beyra-vinhos com altitude". O lugar já lhe era bem conhecido e, em 2010, surgiu-lhe a possibilidade de comprar, a "um preço irrecusável", reconhece, a adega Santiago e os 10 hectares de vinha contígua. Depois de investir na renovação das instalações e da vinha e na compra de material de vinificação, Rui Madeira fez os primeiros vinhos, brancos e tintos, na vindima de 2011, com recurso a uvas compradas.

Os primeiros três brancos já foram lançados no mercado: o Beyra, o Beyra Quartz e o Beyra Superior. O primeiro é um vinho de entrada de gama para ser vendido abaixo dos três euros e que se distingue pelo seu impetuoso e fresco final de boca; o segundo mostra refrescantes notas cíticas (lima, bergamota), boa fruta na boca, um gracioso toque mineral e uma notável e bem equilibrada acidez, que dá um prolongamento incrível ao vinho (custa quatro euros); o terceiro fermentou e estagiou parcialmente em barricas novas e é um vinho que vale a pena conhecer e seguir com atenção (nove euros). A madeira, presente de forma harmoniosa, deu volume e estrutura ao vinho sem lhe retirar verticalidade e delicadeza, sem prejudicar a pureza da fruta e a acidez refrescante. Muito bom.

Rui Madeira espera lançar o primeiro Beyra Tinto (fermentado e estagiado apenas em inox) no Outono e o primeiro Beyra Superior na Páscoa de 2013. Com pelo menos um ano de barrica nova, este é um tinto que promete trazer de novo para a ribalta a casta Tinta Roriz, cada vez mais mal amada na vizinha região do Douro, sobretudo pelos produtores de vinhos tranquilos.

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