Open dos EUA regressa ao Olympic Club e revive caso Casey Martin

Foto
Casey Martin no seu buggy, Tiger Woods a pé DANNY MOLOSHOK/REUTERS

Golfista fez história em 1998 ao ganhar nos tribunais o direito a jogar de buggy. Hoje volta ao palco da polémica

Quando Casey Martin recebeu uma autorização do Tribunal Federal de Eugene (Oregon) para utilizar um buggy no Open dos EUA de 1998, no Olympic Club em São Francisco, uma onda de indignação varreu o mundo golfístico. O poderoso PGA Tour (principal circuito de profissionais dos Estados Unidos), humilhado, via abrir-se um precedente: nunca, no passado, fosse em que circunstância fosse, abrira uma excepção neste capítulo. Hoje, Martin volta a competir no mesmo torneio e no mesmo campo de há 14 anos.

Natural de Eugene, Martin já não é o jovem talentoso de 26 anos, o herói nacional que ousou afrontar o PGA Tour e a hostilidade dos companheiros de profissão para poder seguir uma carreira no golfe de competição. Ele sofre da síndroma de Klippel-Trenaunay-Weber, rara doença congénita do foro circulatório, que, no seu caso, reduz o fluxo de sangue na perna direita, causando-lhe dores intensas ao fim de algum tempo a caminhar.

Como jogador, Martin acabou por ser mal sucedido, mesmo que em 2001 tenha vencido definitivamente a guerra judicial contra o PGA Tour, com decisão favorável do Supremo Tribunal. Desde 2006, é o treinador de golfe dos Ducks na Universidade de Oregon. Mas como o Open dos EUA voltava neste ano ao Olympic Club, decidiu participar nas provas de qualificação. "Eu ia apenas jogar golfe. Se corresse bem, óptimo", conta. Conseguiu apurar-se.

Vista à distância a controvérsia de 1998, houve demasiado barulho para nada. Coisas que se disseram na altura: "Este episódio abriu uma porta que não deveria ter sido aberta, e que poderá ferir o jogo", ofendeu-se o lendário Tom Watson. Jack Nicklaus, o maior de sempre (pelo menos até ao aparecimento de Tiger Woods): "Vai haver gente a aproveitar-se disto, acreditem." Roger Maltbie foi ainda mais longe e previu o "caos no mundo desportivo".

Até Tiger Woods, colega de Martin durante um ano nos Cardinals da Universidade de Stanford, era contra: "Como amigo, gostava que ele tivesse um buggy, mas, do ponto de vista do jogo, acho que passaria a ter uma vantagem adicional em relação aos outros."

Afinal, revelou-se infundado o receio inicial de que outros jogadores com problemas físicos ou simples lesões viessem a apoiar-se no precedente para jogarem de buggy. Nunca mais aconteceu. Talvez Martin tivesse razão quando argumentava que usar buggy não lhe conferia nenhuma vantagem, pois caminhar permite aos golfistas estabelecerem um certo ritmo e controlarem as emoções.

Alguns dos que o criticaram têm-se retractado nos últimos dias. Na terça-feira, Woods jogou com Martin uma volta de treino no Olympic e comentou: "Há já muito tempo que não o via. Ele é agora treinador dos Ducks. E está tão contente na vida. Ele jogou connosco no Tour, tentou a sua sorte e era feliz, mas não tanto como é agora." Martin retribuiu elogiando o antigo companheiro: "Sem desrespeito para os outros, ninguém que eu tenha visto jogar se aproxima de Tiger."

Paul Azinger, em tempos o melhor golfista norte-americano, actualmente comentador do ESPN, reconheceu que estava "errado" quando, noutros tempos, se colocou do lado do PGA Tour. Curtis Strange, o último a revalidar o título no Open dos EUA (1988-89), disse: "Casey tem mais coragem do que qualquer outro jogador neste Open dos EUA." O pai de Martin congratulou-se: "Vejo que há muita reconciliação em curso. Para mim, como pai, é gratificante."

Casey Martin terminou o Open dos EUA de 1998 no 23.º lugar - chegou a estar no leadeboard, mas foi-se um pouco abaixo. "Será diferente desta vez, sem expectativas, sem pressão. Só não quero fazer um milhão [de pancadas]", brincou, antes de falar mais a sério: "Gostava de passar o cut e de ser pago. Seria divertido, porque há muito dinheiro envolvido neste torneio. De resto, vou aceitar tudo o que vier, estando consciente de que esta é uma grande experiência", resumiu.

Martin reconhece, porém, que estará nervoso. "É muito complicado. Quero estar entusiasmado, mas sei que quando chegar ao buraco 1 será difícil."

Sugerir correcção