Três corações e toda uma carreira pela frente na alta-roda mundial

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Erik Compton já necessitou de dois transplantes do coração e participa no PGA Tour MATT SULLIVAN/REUTERS

O norte-americano Erik Compton já fez dois transplantes de coração, mas isso não o impede de participar este ano no PGA Tour, o mais competitivo e mais milionário circuito de golfistas profissionais

A vida de Erik Compton dará certamente um livro. E um filme. Ou ambos. Mas, porque a sua história pode tornar-se ainda mais empolgante, deixemos Hollywood esperar um pouco mais, para ver até onde será ele capaz de chegar na alta-roda desportiva depois de já ter sido alvo de dois transplantes do coração.

Para já, aos 33 anos, está na primeira época no PGA Tour, o principal e milionário circuito de golfe dos Estados Unidos. Tem sido regular, com alguns rasgos de brilhantismo, como o de anteontem, na primeira volta do Memorial Tournament, em Dublin, no mesmo estado, Ohio, de onde era natural o homem que lhe doou o segundo coração.

Natural de Miami, Florida, filho de pai americano e mãe norueguesa, Erik Compton sofria de cardiomiopatia viral enquanto criança e fez o primeiro transplante de coração com 12 anos. O golfe surgiu como meio de reabilitação, transformando-se depois em paixão. Como amador, foi dos melhores do seu país, tanto em juniores como nos Bulldogs da Universidade da Georgia.

Quando sofreu um enfarte a 3 de Outubro de 2007, já era profissional de golfe há cinco anos e jogava no Nationwide Tour, o segundo circuito na hierarquia dos EUA. Passou sete meses no hospital de Miami, à espera de um segundo doador. Que veio na pessoa de Isaac Klosterman, de 26 anos, natural de Dayton, falecido num acidente de mota em Miami.

A recuperação foi impressionante, tanto fisicamente como na competição. Cinco meses depois do segundo transplante, já competia por convite num torneio do PGA Tour - e passava o cut no mesmo. E, no ano passado, ao terminar a temporada entre os 25 primeiros na lista de prémios do Nationwide Tour (com uma vitória no Open do México), conquistou a promoção ao PGA Tour 2012.

Verdade seja dita, Compton não está satisfeito com a época que está a protagonizar. A sua melhor classificação foi o 26.º lugar no Honda Classic, na sua cidade natal. Em contrapartida, passou o cut em nove dos 14 torneios em que participou (acumulando 206 mil dólares em prémios monetários), o que demonstra alguma consistência de jogo. No ranking mundial, é o n.º 273.

Seja como for, Compton acredita nas suas potencialidades. "Quem vivesse a minha vida, aprenderia a confiar em muitas coisas. Todas as manhãs, eu confio que o meu coração vai bater de uma certa maneira. Tenho de confiar em muitas pessoas, por isso, por que não confiar em mim próprio?"

E tanto confia que está a trabalhar para progredir no golfe. Antes daquela volta inaugural no Memorial Tournament, um dos mais prestigiados torneios do PGA Tour, começou a operar mudanças no seu swing, no sentido do torná-lo mais compacto e ter menos prejuízo quando falha. "Acho que tenho o talento, mas tem sido difícil para mim juntar boas voltas. Não posso continuar a levar abadas dos que jogaram comigo a nível universitário", justifica.

Os resultados não se fizeram esperar e, na primeira jornada do Memorial Tournament, no campo do Muirfield Village Golf Club, Compton fez 67 pancadas (cinco abaixo do Par 72), marca que lhe deu o segundo lugar só atrás do líder Scott Stallings e à frente dos mais sonantes nomes da modalidade como Luke Donald, Rory McIlroy - os dois primeiros classificados do ranking mundial - e Tiger Woods. "É um lugar especial para mim", confessa. "Não há um dia que passe sem que me lembre do meu doador. Sei que há pessoas daqui que estão familiarizadas com a minha história, pelo que é um privilégio jogar diante delas." Há quatro anos, Compton, assistiu ao Memorial Tournament a partir de uma cama no hospital em Miami.

"Acho que a minha história ainda não acabou", considera Compton, casado e pai de uma filha de dois anos. "Penso que Hollywood muitas vezes quer um final, e algo que fica em aberto não é suficientemente bom. Tenho de ganhar um torneio da PGA, depois um torneio importante e depois um do Grand Slam e depois, ainda, ser Presidente dos Estados Unidos. É uma história difícil de escrever, porque ainda está em processamento."

Qualquer que seja o final, será sempre uma história única.

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