Viana Barreto (1924-2012): um pioneiro da arquitectura paisagista

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Viana Barreto desenhou com Ribeiro Telles os jardins da Gulbenkian Pedro Valdez

Devem-se a António Barreto Viana muitos dos actuais instrumentos legais de protecção da paisagem

Com a morte de António Viana Barreto (1924-2012) desapareceu um dos históricos da arquitectura paisagista portuguesa e um pioneiro do ordenamento do território. Co-autor, com Gonçalo Ribeiro Telles, do Parque da Fundação Gulbenkian, projecto que recebeu o prémio Valmor, Viana Barreto, que morreu na noite de sexta para sábado, assinou centenas de projectos, quer enquanto funcionário público, quer a título privado, e devem-se-lhe ainda os primeiros passos para a criação de ferramentas legais de protecção da paisagem, como a Reserva Agrícola Nacional, a Reserva Ecológica Nacional ou os Planos de Ordenamento do Território.

Em Março passado, recebera o Prémio Personalidade da Arquitectura Paisagista 2012, atribuído por um júri presidido por Gonçalo Ribeiro Telles e que integrava ainda, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa e a actual presidente da Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas, Margarida Cancela de Abreu.

Discípulo do grande impulsionador da arquitectura paisagista em Portugal, Francisco Caldeira Cabral, Viana Barreto tinha também formação como engenheiro agrónomo e silvicultor.

Entre os seus muitos projectos, podem destacar-se o já referido Jardim da Gulbenkian (1963) - Gonçalo Ribeiro Telles lembrava ontem ao PÚBLICO que a sua intervenção "foi muito importante nos jardins instalados sobre o edifício, uma coisa que estava a iniciar-se em Portugal, e que ele tinha estudado" -, o Parque Aquilino Ribeiro, em Viseu (1954), a envolvente do Mosteiro da Batalha (1954), o Jardim da Torre de Belém (1956) ou o Jardim da Biblioteca Nacional (1956), este em colaboração com Álvaro Dentinho, com quem também desenhou, no mesmo ano, os terraços ajardinados do Hotel Ritz, em Lisboa.

Das suas obras mais recentes, uma das mais relevantes é a remodelação, em 1981, da Quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar, cujo jardim é hoje a terceira maior zona verde de Lisboa, depois dos parques de Monsanto e da Bela Vista.

Margarida Cancela de Abreu descreve-o como "um homem muito modesto" e cujo trabalho, talvez por isso, nunca terá sido devidamente divulgado e reconhecido. "Trabalhei com ele e sabia que tinha um atelier privado, mas só há pouco tempo percebi que tinha feito mais de 400 projectos".

Funcionário público

Viana Barreto também deu aulas no Instituto Superior de Agronomia e na Universidade de Évora, mas foi, antes de mais, um funcionário público. Exerceu funções em vários ministérios e, na primeira metade dos anos 80, foi director-geral de Ordenamento no Ministério da Qualidade de Vida, então tutelado pelo seu amigo Gonçalo Ribeiro Telles, tendo ficado a dever-se a ambos a criação de um conjunto fundamental de leis de protecção da paisagem. Enquanto responsável pelo Ordenamento, criou o primeiro departamento público de arquitectura paisagista, o Serviço da Paisagem.

No currículo de Viana Barreto, Margarida Cancela de Abreu sublinha ainda a relevância do seu Plano de Ordenamento Paisagístico do Algarve, realizado em 1969. "Foi uma coisa pioneira não só em Portugal, mas no mundo", garante, acrescentando que os conceitos e métodos propostos pelo arquitecto português eram então uma novidade absoluta.

Este primeiro plano de ordenamento do Algarve, que foi apresentado em 1972 à Direcção-Geral de Serviços de Urbanização, nunca viria, no entanto, a ser concretizado.

A extensão do percurso profissional de António Viana Barreto, que abarca seis décadas, permitiu ainda que fosse convidado a reformular projectos que ele próprio concebera, como aconteceu com o Parque de Viseu, que Viana Barreto desenhou em 1954 e veio depois a remodelar, a convite da autarquia, quase meio século mais tarde.

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